
Depois de um interregno de cinco anos, a Associação de Combatentes do Concelho de Tábua voltou a comemorar o 5 de Outubro, data que – para além de celebrar a implantação da República, pondo fim à Monarquia – acolheu desde a sua fundação para homenagear os militares tabuenses que tombaram na Guerra do Ultramar.
Como desde sempre aconteceu, as cerimónias evocativas iniciaram-se na rotunda dos Combatentes na vila de Tábua, onde foram depositadas oito coroas de flores junto ao Monumento aos Combatentes, e após o qual foi observado um minuto de silêncio em memória de todos os combatentes falecidos.
Num momento sempre revestido de grande emoção, coube ao antigo combatente Abílio Rodrigues – dirigente responsável pela Associação, após o falecimento do presidente António da Conceição Carvalho Nunes – proceder à “chamada” (um a um) dos 21 militares tabuenses falecidos nas ex-províncias Ultramarinas. De arrepiar, as 21 vezes (uma por cada nome)com que todos os combatentes presentes gritaram bem alto: “Presente!”.
Tratou-se do 15.º Encontro promovido pela Associação de Combatentes, e este ano, a freguesia em foco foi Meda de Mouros. «Pretendemos não só homenagear os combatentes da freguesia, onde felizmente não houve mortos (…) mas também homenagear todos os combatentes do concelho de Tábua», explicou Abílio Rodrigues.
Admitindo que muito se tem dito sobre a Guerra Colonial ou Guerra do Ultramar (justa ou injusta), o dirigente lembrou na sua alocução que (…) «uns dizem que a sua história está contada. Outros dizem que está recontada. E outros ainda, que está mais do que contada», contudo (…) «cada um de nós tem a sua história. Eu também tenho a minha», reconheceu.
Incisivo, Abílio Rodrigues afirmou que a verdadeira história que há-de julgar os antigos combatentes (…) «ainda está por fazer» e que só será feita quando os intervenientes na Guerra Colonial, todos tiverem partido para o Além. «Então sim, será feita a verdadeira história da guerra. Essa será a verdadeira história que há-de julgar se a guerra na qual nos envolveram, contra a nossa vontade, foi justa ou foi injusta. Mas isso será com a História e com os historiadores», frisou-
Ainda antes da deslocação dos participantes no Encontro se deslocarem para Meda de Mouros, o vereador representante do Município, salientou que a data da efeméride “era um dia especial”, porque passados cinco anos (…) «esta Associação retoma as suas actividades mas, sobretudo, continua com o seu objectivo, que está na génese da sua criação, que é honrar todos aqueles que combateram pelo nosso País, que honraram o nosso País».
Lembrando que de todos esses, 21 militares do concelho de Tábua (…) «infelizmente perderam a vida a lutar pelo nosso País», David Pinto sublinhou que (…) «também aqui, neste momento e nesta altura, não posso deixar de falar em outros três “combatentes” – não foram soldados da guerra – “Soldados da Paz” que há tão pouco tempo, infelizmente, perderam a vida num combate desigual contra o fogo. Falo-vos da Susana, do Paulo e da Sónia, três bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, que perderam a vida a defender o nosso território, a nossa Nação, o nosso Portugal», fazendo notar aos presentes que (…) «deixo a minha homenagem, não só aos 21 militares que perderam a vida no Ultramar, mas também a estes três “Soldados da Paz”».
Já em Meda de Mouros, antes da celebração da Eucaristia de sufrágio aos Combatentes, a comitiva dirigiu-se ao cemitério local onde depositou duas coroas de flores nos túmulos de dois combatentes falecidos após o fim da guerra: Américo Gomes Martins e Aníbal Mariano Fonseca.
Ainda antes do almoço comemorativo, Abílio Rodrigues e João Moura) presidente da União das Freguesias de Pinheiro de Coja e Meda de Mouros) descerraram uma placa evocativa do convívio de homenagem aos antigos combatentes, no edifício/sede da Junta de Freguesia.
Na ocasião, e ressalvando que não tinha sido militar, João Moura reconheceu perante os sobreviventes da Guerra Colonial/Ultramar que, recorde-se, decorreu em particular nos territórios de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique, entre 1961 e 1974 – que (…) «vocês fizeram o trabalho que vos foi incumbido – pelo regime de então – enquanto lá estiveram», acrescentando por último aos presentes que (…) «vocês são disso testemunha porque voltaram», esperando que a “verdadeira história da guerra” venha a ser escrita (…) «para que se acabe com as dúvidas», concluiu.
Recorde-se que no 15.º Convívio compareceram antigos militares do concelho de Tábua, e outros representaram, com os respectivos estandartes das associações/núcleos, os concelhos de Arganil, Góis, Lousã, Pampilhosa da Serra, Penacova, Castelo de Paiva e Núcleo de Tábua da Liga dos Combatentes.
Tabuenses falecidos no decurso da Guerra do Ultramar
Freguesia de Ázere: Altino Duarte Pereira – falecido em 29/09/1962 | António Manuel Pereira da Fonseca – falecido em 13/12/1964 | José Miguel Tavares Santos – falecido em 23/06/1965 | José Pedrosa Trovão – falecido em 04/09/1963
Freguesia de Candosa: Cassiano Lopes São Bento – falecido em 02/05/1973 | Manuel Brás – falecido em 14/04/1970
Freguesia de Espariz: João Maria Jesus Fernandes – falecido em 31/07/1961
Freguesia de Midões: António Henriques Oliveira Marques – falecido em 13/12/1964 | Carlos Manuel Abrantes Borges – falecido em 21/07/1970 | José Eduardo Marques – falecido em 19/07/1965
Freguesia de Pinheiro de Coja: António Pereira Nunes – falecido em 125/05/1968 | Joaquim Nunes Gouveia – falecido em 04/11/1966 | José Fonseca Brás – falecido em 07/06/1967
Freguesia de Póvoa de Midões: António Ribeiro Borges – falecido em 16/10/1967 | Manuel Henriques Monteiro – falecido em 31/05/1965
Freguesia de São João da Boavista: João Nogueira Marques – falecido em 05/02/1963 | José Júlio Fonseca Gil – falecido em 07/02/1973
Freguesia de Sinde: António Manuel Tavares de Brito – falecido em 06/11/1963
Freguesia de Tábua: Carlos Alberto da Costa – falecido em 09/07/1966 | João Paulo Alves Antunes – falecido em 02/03/1968 | Mário Andrade Alexandre Constantino – falecido em 16/08/1967