TÁBUA: Biblioteca assinalou bicentenário do nascimento de João Brandão

Créditos-foto: João Macdonald

Fez no último sábado 200 anos, que nasceu no Casal da Senhora, na freguesia de Midões, a 1 de Março de 1825, João Vítor da Silva Brandão.

Para assinalar o bicentenário do seu nascimento, a Biblioteca Pública Municipal – que ostenta o seu nome – convidou a Professora Doutora Célia Taborda, da Universidade Lusófona do Porto, para uma palestra que teve por objectivo esmiuçar um pouco do legado de João Brandão.

Defensor dos cartistas, esteve envolvido em lutas eleitorais como cacique e organizador de sindicatos de voto. Ainda hoje há bastantes dúvidas sobre o verdadeiro carácter de Brandão, como homem imperfeito do seu tempo, criminoso, homem cruel ou filantropo para o povo da sua região.

Seja como for, João Brandão, os seus irmãos António e Roque, o próprio pai, primos e alguns seguidores não aparentados (devido a esta forte presença de membros da família Brandão neste bando de bandoleiros, ficaram conhecidos como o “Bando dos Brandões”) fizeram, com ele, um dos bandos políticos que, no século XIX, armados de bacamartes, clavinas e clavinetes, trabucos e punhais, vararam as Beiras a ferro e fogo.

Foram “voluntários da Rainha” que partiram de Midões para combater na guerra civil e depois se mantiveram, encostados ora ao Partido Progressista (da “esquerda” liberal da altura), ora ao Partido Regenerador (da “direita” liberal-conservadora da altura), ora ao Partido Histórico (do “centro-esquerda” liberal moderado da altura); enfrentaram os restos do miguelismo ainda arreigado nas vilas e chegaram mesmo a juntar as suas hostes com os bandos do “partido absoluto” (general Póvoas) nos estranhos realinhamentos que a Patuleia engendrou. Serviram às chapeladas que infestaram os actos eleitorais do primeiro liberalismo, tutelaram poderes locais e foram instrumentos para confrontar outros bandos que também sangraram as terras beiroas: o do Marçal de Foz Côa e o do famoso Caca (também, erroneamente, chamado Caco), por exemplo.

Quer os Brandões fossem tecnicamente criminosos (isto é, quebrassem a lei da altura) ou não, é certo que estes serviram donos do poder central em Lisboa, judicial da Relação do Porto e local de Coimbra e Viseu com as suas armas e acções e não eram muito diferentes de outros bandos bandoleiros durante a monarquia constitucional pós-Guerra Civil e pré-Regeneração de várias facções pró e anti-poder da altura (exemplos do Setembrista e ex-Maria-fontista-Patuleio, Zé do Telhado, na área do Marão e muito do Norte do país que muitas vezes serviu o general Pizarro e barões de Vila Real e Régua ou o Miguelista Remexido, na serra algarvia durante a Guerra Civil Portuguesa).

Em Lisboa figuras como o duque de Saldanha, o duque de Palmela, os irmãos Cabrais, Braamcamp e Fontes Pereira de Melo comunicavam-se por carta pessoalmente com figuras deste tipo para agirem quer como seus agentes políticos eleitorais quer como sicários violentos.

Em 9 de Outubro de 1870 foi desterrado para Angola, onde morreu em 1880. Casou em 1863 com D. Ana Eugénia de Jesus Correia Nobre.

Em 1870, enquanto preso na cadeia do Limoeiro, escreveu “Apontamentos da vida de João Brandão por ele escritos nas prisões do Limoeiro envolvendo a história da Beira desde 1834” (publicado por Vega, Lisboa 1990).

Quando João Brandão foi deportado para o exílio em Angola – onde acabou por falecer, na província do Bié, em 1880– em toda a Beira se organizaram festas populares e o povo cantou na rua «Lá vai João Brandão… e então? E então? E então?».

Ainda hoje faz parte da cultura popular portuguesa, sendo muito conhecida a cantiga «João Brandão»:

“Lá vai o João Brandão
Tocando o seu violão.
Casaca à moda na mão
E então? E então? E então?
Trai, trai, ó laré, trai, trai,
Era à moda de meu pai.
O Pastor ah!, ah!, ah!,
Lavrador enganador,
Renhinhi, Rinhónhó,
Ah!, ah!, ah!, oh!, oh!, oh!
Lá vai, no seu alazão,
Ó ti João Brandão.
Até parece um barão
E então, e então, e então.”

Créditos: WIKIPÉDIA