Quase sete anos depois dos violentos incêndios de Outubro de 2017, o incêndio de Nelas, que atingiu o concelho de Tábua, voltou a fazer vítimas mortais. Desta vez, a 17 de Setembro, morreram no combate às chamas, em Vila do Mato (freguesia de Midões) três efectivos da corporação de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Oliveirinha.
Susana Carvalho (de 44 anos), Paulo Santos (de 38 anos) e Sónia Melo (de 36 anos) são as vítimas dos incêndios que deflagraram na passada semana na região centro e norte do país, onde, para além dos danos materiais, ceifou a vida a um outro bombeiro dos Voluntários de Oliveira de Azeméis e a 7 civis (dois deles faleceram esta segunda-feira).
A notícia do incidente – ao que se sabe foram apanhados por uma “língua de fogo” – com os bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha caiu como uma bomba no seio de toda a comunidade tabuense, e em particular no seio da corporação, que não escondeu a “revolta e consternação” pela perda de três “amigos, camaradas e bombeiros exemplares”. «A terra perdeu três filhos», era a frase mais pronunciada pelos habitantes.
Em lágrimas, o presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Oliveirinha, lamentou que as vítimas tenham (…) «perdido a vida a salvar vidas». «Eram bons activos desta casa», destacou Vítor Melo.
Recorde-se que Paulo Santos, para além de irmão do Comandante dos BVVNOliveirinha (Nuno Santos) era cunhado de Sónia Melo (esta iria casar no próximo ano).
Logo que foi confirmada a trágica notícia, o Executivo camarário liderado por Ricardo Cruz, decretou “3 dias de Luto Municipal” (ver notícia relativa na edição de 19 de Setembro, de A COMARCA).
Após terem sido realizadas as respectivas autopsias, as cerimónias fúnebres dos três bombeiros realizaram-se no último sábado, dia 21, no Quartel dos Bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, onde, uma verdadeira multidão se reuniu para o último adeus aos três bombeiros.
Aos familiares, amigos, companheiros, gentes da localidade, do concelho, da região e de todo o país, juntaram-se as mais altas individualidades do Estado português.
Ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco, assim como as ministras da Justiça, Rita Alarcão Júdice e da Administração Interna, Margarida Blasco, juntaram-se ainda o presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), José Duarte da Costa, o comandante da estrutura, André Fernandes, e o comandante-geral da GNR, Rui Ribeiro Veloso.
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Nunes, e dezenas de comandantes de corporações do país juntaram-se igualmente em Vila Nova de Oliveirinha, tal como o Executivo Municipal de Tábua e outros autarcas da região.
Na Homilia da missa de Corpo Presente, o Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes pediu aos bombeiros de todo o país para que (…) «não desistam», pelo contrário (…) «ganhem um entusiasmo e uma força interior maiores ainda», defendendo que os três bombeiros “sejam um exemplo”.
Também o cardeal de Lisboa, Rui Valério, e o capelão da Liga de Bombeiros, Américo Aguiar participaram nas cerimónias fúnebres, tendo este último defendido que o que aconteceu sirva como “o cimento e o betão” para que no próximo ano o país (…) «esteja mais forte e mais capaz» no combate e na prevenção dos incêndios.
Quer o presidente da República, quer o Primeiro-Ministro optaram por não fazer declarações. Apenas o ex-presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, considerou “injusto” o que aconteceu aos três bombeiros. A partir de Vila Nova de Oliveirinha criticou (…) «a falta de acção dos sucessivos governos» e apelou a um (…) «pacto de regime em matéria de prevenção de fogos».
(*) com Notícias de Tábua – Fotografias: MOUROSTV
Município procede ao Levantamento de danos e prejuízos
Com o objectivo de prestar apoio a todos os cidadãos, e efectuar no terreno um primeiro levantamento de danos e prejuízos causados pelo incêndio, tem já no terreno Equipas Multidisciplinares do Município em articulação com os Executivos das Freguesias de Midões, Póvoa de Midões e de Tábua.
«Este trabalho de proximidade é essencial para que no imediato possam ser identificadas e priorizadas as ajudas que permitam ultrapassar as necessidades mais prementes das populações, bem como para apresentar solicitar junto da Administração Central a ajuda necessária à recuperação deste território.
Nesta fase, as Equipas são constituídas por um Psicólogo/a; um Assistente Social; um Fiscal Municipal, podendo ser mais tarde complementadas por outros Técnicos do Município».
AIGP específica para território afectado pelos incêndios
O presidente da Câmara Municipal de Tábua defendeu na reunião do Conselho Intermunicipal da CIM Região de Coimbra, a criação de uma AIGP – Área Integrada de Gestão da Paisagem específica a implementar no território afectado pelos incêndios dos últimos dias, nomeadamente no Concelho de Tábua, numa área que se estima seja superior a 1.100 ha.
«Esta é uma oportunidade para encontrar uma resposta concreta para o ordenamento e gestão da paisagem, aumentando a sua resiliência aos incêndios, ao mesmo tempo que contribuirá para a valorização do potencial paisagístico, da sustentabilidade ambiental e do desenvolvimento da economia local».
«A definição e execução de um plano gerido de forma integrada, que tenha associado meios para fazer face aos investimentos identificados e às posteriores acções de manutenção do território e dos seus recursos, é um modelo de intervenção adequado para a recuperação e regeneração da paisagem e para o incentivo às populações que devem continuar a acreditar no futuro deste concelho».
Ricardo Cruz assume que o Município está disponível para encetar de imediato junto da Direcção Geral do Território a elaboração de um plano integrado, que integre os vários parceiros locais e regionais e promova o envolvimento das populações, no sentido de estimular o investimento numa floresta ordenada e nas actividades do mundo rural, entre as quais a pastorícia que tem grande tradição nestas Freguesias, (…) «contribuindo para a consolidação de uma paisagem que se quer humanizada e por conseguinte mais resiliente a estes factores extremos».
Incêndios florestais Setembro 2024
Área queimada: 135,752 hectares
Uso do solo: áreas florestais e urbanas
Vitímas mortais: 9
Feridos: 143 feridos (42 graves)