VALADO (Moura da Serra – Arganil): “Casas do Outeirinho” vão ser inauguradas no sábado

Albino Gomes na esplanada das “Casas do Outeirinho”
Espaço de excelência, um dos aspectos exteriores das “Casas do Outeirinho”

No sábado, 27 de Maio, vão ser inauguradas as “Casas do Outeirinho” – Turismo Rural, um (grande) empreendimento de Albino Gomes (e de sua filha Carla Maria Sérgio Gomes), que muito vem contribuir para dar mais vida ao Valado, para tornar ainda mais conhecida e levar muito longe o nome desta pequena aldeia do concelho de Arganil.

Encravada numa encosta das nossas serras, acolhedora, com uma paisagem bonita sobre um vale profundo a perder de vista, onde se respira o ar puro e o sossego, fazem a grandeza desta pequena aldeia, agora ainda maior e mais rica com as “Casas do Outeirinho”, um bem conseguido espaço de turismo rural, onde o bom gosto e a modernidade aliada à antiguidade, ao mobiliário, às madeiras e ao xisto, acabam por tornar o empreendimento num espaço de excelência, onde nada foi descurado e com todas as condições para receber os mais exigentes turistas.

Aliado a tudo isto, a situação privilegiada das “Casas do Outeirinho”, que depois de adquiridas por Albino Gomes, desde logo pensou num projecto que, apesar de obrigar a um grande investimento na sua recuperação (e mesmo apesar de ver reprovada a sua candidatura para um espaço de turismo rural), mesmo assim não baixou os braços e avançou com as obras, porque afinal não esquece que “a maior riqueza levei-a do Valado” e tudo é pouco para a sua aldeia, para lhe dar vida, para contrariar a desertificação que continua a ser um dos maiores dramas das nossas terras e das nossas serras.

E Albino Gomes não esquece (e reconhece) o apoio e incentivo que, desde a primeira hora, sempre recebeu do presidente da União de Freguesias de Cerdeira e Moura da Serra, Adelino Almeida, e do presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, para avançar com a obra, que acaba por ser mais um importante motivo para atrair pessoas à freguesia e ao concelho que, a partir de sábado, vão encontrar nas “Casas do Outeirinho”, além da simpatia e o saber bem receber, o local ideal para descansar, para retemperar forças, para passar uns dias de sossego, as suas férias. E não temos dúvidas que os melhores propagandistas irão ser aqueles que forem acolhidos e usufruírem deste magnífico espaço, pensado (e sempre acompanhado) ao pormenor pelos seus empreendedores, que hoje se podem orgulhar da (grande) obra que faz a diferença na pequena aldeia do Valado, mas também na freguesia e no concelho de Arganil.

Apesar de lisboeta de nascimento “eu sou do Valado, sou serrano”

“O nome de Arganil ajudou-me”, recorda Albino Gomes, quando ainda muito novo chegou a Lisboa à procura de emprego, “é pessoal trabalhador e sério”, como lhe disse o dono do estabelecimento onde pediu trabalho e, “como o trabalho a mim nunca me meteu medo”, começou a trabalhar numa pequena mercearia, na grande cidade que o viu nascer, “nasci por acidente na Maternidade Alfredo da Costa” (onde a mãe o foi dar à luz, por recomendação do pai e pelos tempos difíceis causados pela guerra que se vivia – a II Guerra Mundial), “mas ao fim de mês e meio regressei ao Valado, (…) eu sou do Valado, sou serrano”, aprendeu as primeiras letras “ia para a escola de pé descalço” e, aos 8 anos, já “frequentava” a “universidade da vida” a carregar, ao lado das mulheres, cestas de terra do fundo para o cimo das propriedades, como era prática na época, quando do amanho das terras situadas sobretudo nas encostas das nossas serras.

Trabalho duro, “mas já ganhava dois escudos”, como duro foi trabalhar depois na limpeza de minas, debaixo do chão, em Lagares da Beira, para onde foi Albino Gomes. Mas esteve ali pouco tempo, “duas semanas”, até que um dia, manhã bem cedo, acabou por se meter ao caminho, a pé, e voltar para a casa dos seus pais, na sua aldeia, onde depois de um dia a caminhar, a subir montes e vales, acabou por chegar noite dentro. Os pais não o esperavam e, ao chegar à porta da pequena cozinha, ouviu a mãe dizer: “como é que estará o nosso filho”. E a resposta veio de imediato, “estou bem, estou aqui”. Foi uma alegria.

Mas o espírito irrequieto e empreendedor, a ambição de uma vida melhor de Albino Gomes, não deixaram que se ficasse pela aldeia, onde os horizontes eram limitados e o futuro era incerto e então, com 13 anos de idade, consegue arranjar trabalho numa padaria, em Cernache do Bonjardim, “os padeiros da Sertã e de Cernache do Bonjardim eram daqui, eram dois primos”, onde trabalhou como ajudante de padeiro, na distribuição de pão, mas a “fartura” não era muita e, ao fim de dez meses, “com uma saquita às costas, vou para a central de camionagem, depois Tomar e sem saber onde era Lisboa apanhei o combóio para Santa Apolónia, onde me esperava o meu irmão António que, apesar de muito novo, já se encontrava na capital.

“Fui dormir para um cubículo, debaixo de um vão de escada, onde o meu irmão dormia, até arranjar emprego, numa mercearia, onde fui ganhar cem escudos, cama, mesa e roupa lavada”, recorda Albino Gomes, sem pelo meio esquecer muitas outras peripécias passadas e próprias de um miúdo de palmo e meio que, do meio da serra veio para a grande cidade. Entretanto e para ganhar mais, arranjou outro emprego numa outra mercearia, ainda passou por outra, “mas os restaurantes pagavam mais e fui para um restaurante onde, já como responsável, trabalhava o meu irmão, Só em gorjetas tirava-se um bom ordenado”.

Entretanto o irmão vai para a tropa e Albino Gomes fica no seu lugar, até que chegou a sua vez de ir cumprir também o serviço militar e, quando ambos terminaram o cumprimento do dever (obrigatório) para com a Pátria, decidiram trabalhar por conta própria “e começámos a procurar um estabelecimento, um café snack-bar”, algumas dificuldades para conseguir o dinheiro necessário até que, e porque era menos dinheiro, decidiram comprar um táxi, “comprámos o primeiro táxi em 19 de Fevereiro de 1968”, recorda Albino Gomes.

Outros táxis se seguiram, a trabalhar de dia e de noite e o negócio foi correndo bem, até que Albino Gomes acaba por separar a sociedade com o irmão, “mas nunca perdi a ideia do comércio”, arranja um sócio e compra um snack-bar, no Largo do Rato. Fez obras, abriu remodelado e algum tempo depois, trespassou o estabelecimento, “assim é que se ganhou dinheiro. Depois fomos abrir outro que depois também passei. E ao mesmo tempo ia comprando táxis, cheguei a ter dez, agora só tenho oito”.

Novamente à procura de novos estabelecimentos e, em sociedade, toma de trespasse um grande estabelecimento de pastelaria e restauração “Lorena” (actualmente tem 13 funcionários ao seu serviço) e mais tarde compra o prédio onde está instalado, em Alcântara.

Pelo meio “e numas férias, estive três anos e meio sem vir à terra”, conhece “numa festa do Monte Frio”, a mulher da sua vida, uma sarzedense, a Maria Isabel Correia Sérgio, que desde os 18 anos também já trabalhava em Lisboa e com quem acaba por casar. Da sua união (de mais de meio século) nasce a Carla Maria que herdou do pai o amor à terra do Valado, onde têm também residência, a antiga casa (recuperada e ampliada) dos pais do Albino Gomes e onde, sem deixar de acompanhar os seus negócios em Lisboa, acabou por se “refugiar” em tempos de pandemia, “em três anos foi apenas alguns dias a Lisboa e então pensei em fazer a obra. A minha filha já me dizia, compre a casa, gosto tanto daquela casa, comprei e começamos a pensar que é que fazíamos e surgiu a ideia do turismo rural”.

Mantendo a traça original, em xisto, as “Casas do Outeirinho” tem nove (magníficos) quartos, casas de banho privativas, espaços de convívio e as obras de recuperação foram sempre acompanhadas por Albino Gomes, que reparte ainda o seu tempo pela pequena agricultura, a acompanhar as iniciativas da Comissão de Melhoramentos (que serve como vice-presidente da direcção há muitos anos), tudo isto a ocupar saudavelmente todos os seus tempos, depois de uma vida longa de trabalho de muitos e muitos sacrifícios, mas que sempre foi capaz de ultrapassar e vencer, subiu a pulso e hoje, ao olhar para trás, desde os tempos de menino e moço até ao empresário de sucesso, sente-se realizado e feliz. E tanto mais feliz porquanto sabe e sente que, com este grande investimento, acaba por dar mais uma grande contribuição para manter viva a “sua” pequena aldeia porque, e como disse, ao levar dali a sua maior riqueza, jamais pode esquecer que “amor com amor se paga”.