
No passado sábado, 25 de Fevereiro, tiveram início as comemorações dos 300 anos do Convento de Santo António, Monumento de Interesse Público desde 2013 e monumento franciscano do século XVIII e que, como recordou a sua proprietária, Margarida Figueiredo, esteve cedido à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia “durante largos anos, devido à Igreja da Misericórdia se encontrar numa total impraticabilidade cultual o que, com muita pena nossa, não difere muito do tempo actual”.
E dando as boas vindas aos convidados e que “se sintam de forma especial neste espaço de reflexão e de medição, onde durante mais de cem anos os frades franciscanos passearam, oraram e fizeram as suas refeições”, Margarida Figueiredo salientou que ”Vila Cova de Alva tem um património histórico/religioso sobre o qual nunca nos cansaremos de chamar a atenção” e, nesse sentido, “a recuperação deste legado seria um contributo importante não apenas para a sua preservação, mas também para atrair visitantes e turistas que dariam outro colorido a esta terra e a estas gentes que parecem cada vez mais esquecidas e mais distantes do centro de decisão”, para salientar depois o facto de, “em boa hora, os órgãos sociais da Santa Casa da Misericórdia tiveram a ideia de comemorar o terceiro centenário de edificação do Convento, passados 300 anos sob a primeira missa nesta igreja”, a 24 de Fevereiro de 1723.
E foi a celebração da missa comemorativa dos 300 anos, na igreja do Convento de Santo António, pelo padre Albino Camati (antecedida da animação de rua com o grupo Gorgulhos Teatro na Serra), que ficou a marcar o início das comemorações dos três séculos de vida da Convento e da sua igreja que, como “tiveram oportunidade de ver, o estado de degradação acentua-se a cada dia que passa e se já há peças quase irrecuperáveis como é o órgão de tubos, ou o cadeiral do coro, talvez ainda com um investimento, relativamente pequeno, pudéssemos evitar o seu colapso total”, como referiu ainda Margarida Figueiredo, acrescentando ainda que “a sacristia, por exemplo, apresenta-se tão degradada que coloca mesmo em risco uma boa parte do edificado”, terminando por referir que “este é o nosso contributo, o de chamar a atenção para os problemas reais que todos os dias vivemos e sentimos e para que ninguém algum dia possa alegar desconhecer”.
O presidente da União de Freguesias de Vila Cova do Alva e Anseriz, Paulo Amaral, não deixou de manifestar a esperança que os pedidos deixados por Margarida Figueiredo tivessem eco nos presentes e no presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, “ninguém melhor do que ele sabe aproveitar os fundos comunitários”, dizendo que “tenho a certeza de que daqui por algum tempo estaremos, se calhar, a inaugurar a obra, ou a avançar com a mesma, (…) para bem de todos” e também pela “importância que damos para que as pessoas continuem cá a viver”.
“Sempre me fez confusão, e causou constrangimento, constatar que do ponto de vista patrimonial, esta vossa aldeia é daquelas que, no concelho, mais património conseguiu reunir e que, ao longo das décadas, dos séculos, esse património se encontra em situação de degradação”, considerou o presidente da Câmara Municipal, referindo por isso e aludindo à igreja da Misericórdia, que “é uma dor de alma quando se entra naquele espaço e se percebe que não há nada ali que possa ser recuperado e na igreja do Convento temos ali uma situação para resolver. Não gosto de fugir aos problemas”.
E nesse sentido, Luís Paulo Costa deu a conhecer que fez um “acordo”, com o reitor de Arganil, padre Lucas Pio, “e aquilo que consensualizamos é que porventura, o mais importante, não era andar a distribuir o pouco dinheiro que existe pelas capelas e igrejas, mas estabelecer prioridades” e assim sendo e como referiu, depois de terminada a recuperação da Capela do Senhor da Ladeira, “que entrou em colapso, a seguir temos de olhar para este templo, porque a situação a que ele chegou é uma situação indigna para aquilo que tem a ver com a preservação do património, do mais valioso que temos do ponto de vista histórico”, deixando a garantia que “será a nossa próxima prioridade” e que sobre o assunto “já estive a falar com a Direcção Geral da Cultura do Centro que também é parceiro essencial nestas intervenções”.
Referindo-se aos 300 anos do Convento, o presidente da Câmara disse que “com esta comemoração avançamos para um próximo século de história, neste espaço, com outra perspetiva e cuidado, e principalmente com uma tentativa de recuperar aquilo que ainda não se perdeu”, assegurando que esta “comemoração tem para nós uma carga simbólica que não é de somenos importância”.
Uma interessante viagem pelas memórias e pela história foram depois as “Conversas do Convento” que se seguiram com o arqueológo Fernando Neves, o dr. Nuno Mata e o dr. Vítor Cardoso que, no seu livro sobre o Convento de Santo António, tão bem soube retratar este “marco religioso” da considerada “Sintra das Beiras” que é Vila Cova do Alva”, sendo ainda recordados muitos daqueles que trabalharam e se empenharam para que “aqui hoje pudéssemos estar”, porque foi “toda esta gente, a maior parte já não está entre nós, que nos traz aqui”.
Comemorações prolongam-se até Outubro
A Filarmónica “Flor do Alva” também se quis associar à festa, com um concerto nos claustros do Convento, seguindo-se depois uma visita guiada ao monumento e área envolvente, tendo terminado com uma mostra gastronómica este primeiro dia do início das comemorações, que vão continuar, no dia 27 de Maio próximo, com pinturas ao vivo nas escadarias do Convento, seguidas de um passeio pela mata, workshop de chás e infusões e um concerto com grupos corais, encerrando no dia 7 de Outubro, com a inauguração da exposição “Um dia no Convento”, um almoço de época e um momento musical “Fado no Convento” e, entre os meses de Maio e Junho, estará patente nas instalações da Santa Casa da Misericórdia uma exposição de Moura Távora. Em Junho, pela aldeia de Vila Cova de Alva, terá lugar uma exposição de painéis, intitulada “As nossas gentes”.