VILA NOVA DE POIARES: À CONVERSA COM O NOVO PROVEDOR DA MISERICÓRDIA DE POIARES “Nós temos que sonhar”

Antonino Figueiredo Martins o novo provedor da Santa Casa de Misericórdia de Vila Nova de Poiares

Depois de oito anos como tesoureiro, Antonino Figueiredo Martins é o novo provedor da Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Poiares.

Poiarense pelo nascimento, mas arganilense pelo coração, Antonino Martins veio para Arganil em pequeno, aqui cresceu, estudou, tem muitos amigos e durante muitos desenvolveu a sua actividade como empresário comercial (no Talho Boa Carne), para voltar depois para a terra que o viu nascer, para o seio da família, para descansar, mas desde logo foi convidado pelo anterior provedor Manuel Lobo para integrar a mesa administrativa e servir, voluntariamente, na Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades.

E no seguimento de familiares, aceitou o desafio e, durante oito anos, Antonino Martins acabou por ser um dos mais directos colaboradores do então provedor, Manuel Lobo dos Santos, no difícil e exigente cargo de tesoureiro, particularmente numa altura em que a instituição tinha a necessidade urgente de fazer um dos maiores investimentos de sempre, na Quinta das Camélias, a modernização do edifício no âmbito de eficiência energética, nova Clínica de Medicina Física e Reabilitação, nova lavandaria e ampliação da ERPI, uma obra que ultrapassou os 3 milhões de euros.

E foi depois da inauguração destas grandes obras, em dia simbólico, 13 de Janeiro e Feriado Municipal do concelho e que “hoje temos a honra de inaugurar e colocar ao serviço da comunidade”, como disse então Manuel Lobo, que recentemente tomaram posse, para o próximo quadriénio, os novos corpos gerentes da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Poiares, eleitos em assembleia geral realizada em 29 de Dezembro de 2023 e homologados pelo Bispo de Coimbra “aos 8 de Janeiro de 2024”.

Tendo como propósito seguir o exemplo, os passos e o mesmo caminho do anterior provedor, na dedicação, na entrega, no amor à Misericórdia, o novo provedor sabe e sente as grandes dificuldades e os problemas que actualmente afectam o Sector Social e que acabam por se reflectir nas Instituições Particulares de Solidariedade Social e particularmente nas Misericórdias, mas com a equipa que lidera, com os poiarenses, com os amigos da Irmandade pretende corresponder às expectativas daqueles que dela necessitam no dia-a-dia, os que mais precisam, os seus utentes. “É para eles que trabalhamos”, sem deixar de ter bem presente o grande barco, “eu não lhe chamaria um barco, chamaria um grande paquete”, que é a instituição (tem mais de 150 colaboradores e nas várias valências apoia mais de 300 utentes), mas que quer levar a bom porto, honrando assim a memória dos fundadores e de todos aqueles que, ao longo dos anos, serviram a Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades.

E foram muitos, ilustres e dedicados poiarenses os servidores da Misericórdia e hoje referimos particularmente o anterior provedor Manuel Lobo dos Santos, para quem e durante a nossa conversa, uma conversa entre amigos, Antonino Martins teve palavras de particular estima e apreço, fazendo suas as palavras do presidente da Câmara Municipal, João Miguel Henriques, proferidas no dia da inauguração das obras, ao dizer que Manuel Lobo “será sempre uma fonte de inspiração para muitos dirigentes associativos, pela forma dedicada, comprometida, desinteressada e sobretudo muito competente com que sempre desempenhou as suas funções”.

Manuel Lobo dos Santos “bem merece o reconhecimento público de Vila Nova de Poiares e dos poiarenses”

Por isso e como considerou Antonino Martins, Manuel Lobo dos Santos “bem merece o reconhecimento público de Vila Nova de Poiares e dos poiarenses”, sem deixar de reconhecer também que muito lhe deve, aprendeu muito com ele, viveu e sentiu com ele todos os problemas da Misericórdia. E foram muitos, vão continuar a ser muitos, mas para os ajudar a resolver conta com os poiarenses, com aqueles que sentem a instituição, também com o apoio da Câmara Municipal, porque como reconheceu o seu presidente no Dia do Concelho, “em Vila Nova de Poiares não podemos deixar de destacar e valorizar a forma como a Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades tem sabido, através de uma gestão competente e desinteressada por parte dos seus responsáveis, não só manter a qualidade das respostas sociais que disponibiliza aos seus utentes, como também realizar investimentos muito consideráveis, sem colocar em causa as contas da instituição nem a sua sustentabilidade”, afirmando ainda que “gerir, é algo que muitos querem, mas gerir bem, não é para todos”.

E na continuidade do anterior provedor, esse é também (e traduzido nas palavras de João Miguel Henriques) o lema do novo provedor, que ao longo da nossa conversa foi deixando falar o coração e, nos olhos, a paixão transparecia pela causa nobre que abraçou. E se muito foi feito, quer ainda mais para que os mais necessitados tenham também mais. E sem deixar de reconhecer que os mandatos anteriores, principalmente o último “não foi fácil, não só pelas obras, mas também pela pandemia “em que tudo se alterou, (…) bem sei o que sofreu Manuel Lobo, mas que pela sua tenacidade, a força de vontade, a integridade que sempre demonstrou ao longo destes 8 anos, deixa uma obra notável em tão pouco tempo. Pessoa generosa, completamente desinteressada e que em prol da instituição não tem problemas em arranjar inimigos. Para ele, a instituição esteve sempre acima de tudo, até da vida familiar”.  

Uma instituição onde os utentes estão primeiro, “temos uma responsabilidade grande, as pessoas, as famílias entregam-nos os seus familiares para cuidarmos bem deles”, considera Antonino Martins, e para isso não deixa de destacar e reconhecer os colaboradores “também uma prioridade do anterior provedor e uma prioridade minha”, porque como reconhece, são eles que no dia-a-dia proporcionam os cuidados e o bem-estar aos utentes que são servidos nas diversas valências da Misericórdia.

E ao recordar com muita satisfação e até emoção, as palavras de um utente (que falam por si), “isto agora é a minha família, esta é a minha casa”, Antonino Martins, não deixou de salientar que “é uma casa aberta para todos, essa tem sido sempre uma das nossas preocupações, apoiar os que estão cá dentro, mas também a comunidade”, dando a conhecer que, “em princípio de Março, vamos fazer uma parceria com um laboratório para iniciar aqui a recolha de análises clínicas. É mais um serviço que vamos prestar” ao concelho e mesmo para além das suas fronteiras.

Mas para tudo isto e muito, muito mais, não deixa de ser fundamental e necessário o rigor na gestão das instituições e, como salienta o provedor, “felizmente esta instituição distingue-se pelo rigor com que tem sido gerida e que permite a sua sustentabilidade”, sem deixar de reconhecer, contudo,  que “há uma falha grave por parte do Estado, porque no momento em que o Estado assume cinquenta por cento dos custos para que estas instituições sejam viáveis e não cumpre (os números falam por si), está a por em causa a sua sustentabilidade. E prevejo que a situação ainda se vai agravar mais. Sob pena de ser ver com a batata quente nas mãos, o Estado tem de reconhecer que somos um parceiro, um parceiro importante e que nos estamos a substituir nas suas responsabilidades”.

Mas enquanto o Estado não assume as suas responsabilidades, “a maioria da população reconhece e acarinha a instituição que é, devia ser, um motivo de orgulho para os poiarenses porque, no cumprimento da missão para que foi criada, é uma referência pelo menos a nível distrital”, disse Antonino Martins, que ao herdar a obra que também ajudou a construir, não deixa de reconhecer que “agora naturalmente  há outras apostas, outros objectivos, alguns que já estavam delineados como a requalificação da parte antiga deste edifício e é essa obra que vamos no imediato intervir, requalificar alguns espaços para dar ainda melhores condições aos nossos utentes”.

Contudo, a nível de futuro e apesar da realidade actual do Sector Social, o provedor reconhece “neste momento temos um outro problema, as demências. E é para onde temos de começar a olhar, começando a sonhar e esse é um sonho que, apesar de neste momento não ter pernas para andar até pelo grande investimento que fizemos, gostaríamos de concretizar e que é uma Unidade só vocacionada para a demência. Não é fácil, é um sonho, mas nós temos que sonhar”.

E com esse sonho deixamos Antonino Martins, que deixou a certeza “vou continuar a trabalhar, com o mesmo empenho, a mesma dedicação, se não melhor pelo menos igual ao que foi feito até agora, esperando também continuar a contar com o apoio de todos os poiarenses que, na sua Misericórdia, encontram sempre as portas abertas”.

A ampliação da ERPI entre a grandes obras de modernização recentemente inauguradas pela Misericórdia

Corpos gerentes

Mesa da assembleia geral – Manuel Lobo dos Santos, presidente; Nuno Vasco dos Santos Lima Fernandes, vice-presidente; e Pedro Miguel Carvalho dos Santos, secretário.

Mesa administrativa – Antonino Figueiredo Martins, provedor; Maria Helena Almeida Pedroso Henriques, Clara Isabel Almeida Madeira Matos de Carvalho, Joaquim Manuel Silva dos Santos, Paula Sofia Dias de Carvalho Silva Gonçalves, José Luís da Conceição Simões e Manuel António Gouveia Teixeira, efectivos; e Neize Isabel Ferreira de Moura Pinto de Morais, Anselmo Ramos Dias Gaspar, Maria Isabel Carvalho dos Santos e António Tomás Domingos, suplentes.

Conselho fiscal – Antonino Mário Henriques dos Santos, presidente; António Esteves Pina Gil, vice-presidente; Hugo Filipe Baptista dos Santos, secretário; e Pedro Manuel Antunes Santos, Maria Isabel Coimbra Santos Carvalho e Maria Fernanda Martins Coimbra Rodrigues, suplentes.