ARGANIL | COMEÇA HOJE A FICABEIRA E FEIRA DO MONT’ALTO: Lopes Machado e Carlos Bernardino homenageados no Feriado Municipal

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Começa hoje, dia 4 e termina no dia 8, Feira do Mont’Alto e FICABEIRA – Feira Industrial, Comercial e Agrícola da Beira Serra. Arganil está em festa. Uma festa do encontro, do convívio e da amizade e que tem o seu dia maior no 7 de Setembro, Feriado Municipal, marcado com a sessão solene comemorativa a ter lugar no Parque Verde Urbano do Sub-Paço e que será presidida pela Ministra da Justiça, Rita Júdice.

Uma festa tanto maior porquanto no dia maior do concelho, 7 de Setembro, a Câmara Municipal honrou-se ao honrar com a atribuição das Medalhas de Mérito Municipal (Grau Prata Dourada), a título póstumo, duas grandes figuras arganilenses, os saudosos António Lopes Machado e Carlos Moura Bernardino.

António Lopes Machado (1927-2018), natural da freguesia de Pombeiro da Beira, saudoso director de A COMARCA e que serviu ao longo de mais de meio século, foi uma referência do Regionalismo da Beira Serra em Lisboa, e Carlos Moura Bernardino (1953-2014), natural de Chãs d’Égua, freguesia do Piódão, destacou-se como grande embaixador da cultura portuguesa e da identidade beirã no Luxemburgo, ambos deixando um legado marcado pela promoção das tradições locais, pelo exemplo de dedicação às suas raízes e pela ligação ao concelho de Arganil.

SONY António Lopes Machado

Exemplo de dedicação à A COMARCA, à sua terra, à Beira Serra e de amor ao Regionalismo, António Lopes Machado foi durante meio século redactor de A COMARCA DE ARGANIL em Lisboa, vindo depois a assumir o cargo de director até ao seu falecimento em 2018. Foi também vice-director e editor da revista cultural Arganília (com 23 volumes editados), além de colaborar eventualmente em outros órgãos da imprensa.

O Movimento Regionalista da Beira Serra teve, em Lopes Machado, o seu principal divulgador através de constantes notícias, reportagens, entrevistas e crónicas sobre as actividades do Regionalismo, do qual foi também dirigente associativo. Viajou pelos cinco Continentes e reuniu nos seus livros boa parte dos seus textos jornalísticos que lhe deram um lugar de relevo na Imprensa Regional, entre os quais se assinalam os Estudos Brás Garcia Mascarenhas (1956), A História do Petróleo (1960), Rotas do Universo (1981-2000), Pombeiro da Beira e sua Freguesia (2004), Casa da Comarca de Arganil (1929-2004), Primeiro Ano do Século XXI (2002), Crónicas Regionalistas (1994-2004) e, também em dois volumes Crónicas e Memórias (2008). Esteve várias vezes no Brasil e participou de numerosos encontros culturais do Centro de Estudos Fernando Pessoa de S. Paulo.

Carlos Moura Bernardino (1953-2014), nasceu nas Chãs d’Égua, freguesia do Piódão. E numas férias e para arranjar algum dinheiro para ajudar nos estudos, foi trabalhar para o Luxemburgo. A lavar pratos num restaurante, foi ficando e subindo a pulso, chegando a administrador do Grupo Happy Snachs (que incluem as franchising dos restaurantes – a que presidiu – Pizza Hut, Chi-Chi’s e Exki), no Luxemburgo, onde era admirado, estimado e respeitado pelos seus compatriotas, nas associações portuguesas, algumas das quais serviu com tanta dedicação. Ajudou tantos conterrâneos (ou mesmo sem ser conterrâneos, mas eram portugueses) a arranjar trabalho naquele pequeno-grande país, a sua Pátria de adopção e “que o acolheu”, como tão bem gostava de dizer.

Carlos Bernardino

Uma Pátria onde, com tanta alegria e amizade, Carlos Bernardino e a esposa receberam (e apoiaram) o Grupo Folclórico Região de Arganil, a Confraria Gastronómica do Bucho (que ali realizou um dos seus Capítulos), a Tuna Popular de Arganil, no estreitar dos laços de amizade, com a geminação entre Dudelange e Arganil. Foi um membro activo da Associação de Amizade Portugal-Luxemburgo. Era de facto um verdadeiro “embaixador” da Beira Serra em terras do Luxemburgo. Era um amigo de A COMARCA, o jornal de que tanta gostava, “a sua carta de família”. E como amava a sua Chãs d’Égua natal, que nunca esqueceu.

Espalhou a verdadeira amizade, a gratidão e o bem e por tudo o que fez pela terra e pela região.

Mas além destes homenageados, a Câmara Municipal irá homenagear também com as Medalhas de Mérito Municipal (Grau Prata Dourada), outras pessoas e instituições que se distinguiram pelo seu percurso e contributo para a vida social, cultural e para o tecido empresarial arganilense, nomeadamente Patrícia Costa Reis, médica pediátrica com raízes em Coja e distinguida pelo seu trabalho notável na investigação médica e na saúde pública, ainda as associações do concelho com 90 ou mais anos de existência, União e Progresso de Barril de Alva, União Recreativa Sarzedense e Liga Regional Alquevense e as empresas CARJ – Construções Alfredo Rodrigues José, Lda. e Interarganil – Supermercados, Lda., ambas distinguidas como PME Líder em 2024.

“O Feriado Municipal é uma oportunidade para homenagear todos aqueles que dão vida a Arganil. É o momento de reconhecer quem, com empenho e ligação à terra, contribui para o crescimento e para a afirmação da identidade do concelho. Destacar o percurso de pessoas, instituições e empresas é, ao mesmo tempo, uma forma de valorizar a nossa identidade coletiva e de afirmar o orgulho que sentimos em ser arganilenses”, considerou o presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa.

E se com outrora, a secular Feira do Mont’Alto já não é o que era na sua tradição (muito longe disso), também FICABEIRA foi deixando de ter a pujança dos primeiros tempos, mas mesmo assim e na sua organização, não esmoreceu o propósito e o empenho para que esta seja a grande festa de Arganil e dos arganilenses, apostando mais uma vez num cartaz com nomes de referência no panorama musical português, que começa com o arganilense e músico internacional Márito Marques, depois com o conhecido Tony Carreira, Van Zee, Bárbara Bandeira e a terminar com Para sempre Marco.

Arganil, a festa e a Feira

Nunca é demais recordar e segundo o saudoso arganilense Amândio Galvão, que a festa e a Feira, juntamente com o próprio Mont’Alto, representam as três paixões a que o arganilense se mantém fiel ao longo de toda a vida.

A origem das tradicionais feiras remonta à época dos romanos em que o território da Península Ibérica foi dividido, a fim de que os seus invasores e ocupantes pudessem controlar a tributação a que obrigavam a população. Em termos administrativos, esta divisão mostrou ser positiva, pois embora com algumas alterações, chegou até nós sob a forma de divisão em freguesias.

Porém, acontece que após se fixarem e fazerem vida em determinado lugar, as várias comunidades ficavam praticamente isoladas umas das outras, sobrevivendo praticamente apenas com aquilo que conseguiam produzir. Todavia, sentiu-se a necessidade de trocar produtos e com o tempo começaram a aparecer em cada vila mercadorias transportadas por mercadores ambulantes. A certa altura as trocas deixaram de ser directas, e foi introduzido o dinheiro e, para conveniência de todos, combinaram-se ocasiões e lugares para encontro de vendedores e compradores.

Mas esta não foi a única consequência do isolamento, criaram-se também condições que propiciaram o desenvolvimento de sentimentos religiosos na alma das pessoas que se sentiam inseguras e precisavam de protecção. E, com efeito, a Igreja Romana difundiu e espalhou, pela Península Ibérica, a sua doutrina com elevada rapidez e quando os templos abertos ao culto passaram a ser especialmente dedicados à invocação de certa divindade, em princípio protectora dos habitantes de determinado local, cumpria homenageá-la de forma diferenciada todos os anos em determinado dia.

E a origem da festa e feira de Arganil em nada difere do que foi referido. Em 1114, quando a Sé de Coimbra decidiu promover o povoamento do território das terras de Arganil, mandou erigir um templo no local que hoje conhecemos como Ribeira de Folques. Tal como noutras freguesias, para além do templo principal surgiram outros secundários, um dos quais o que foi erguido no cimo do cerro hoje conhecido por Mont’Alto.

Ora, é de presumir que a ideia de construir uma ermida dedicada à Virgem no topo deste monte tenha mobilizado o interesse dos primeiros povoadores da vila, pois assim sentir-se-iam mais seguros por imaginarem estar permanentemente sob o olhar protector da Senhora.

Segundo a lenda do Mont’Alto, devido à dificuldade de construção no alto do monte, teriam tentado construir a ermida num monte mais baixo. Mas a Virgem não terá gostado da solução que estavam a querer dar ao seu caso e, num belo dia, para surpresa de todos, desapareceu e foi encontrada no cimo do monte onde inicialmente tinha sido encontrada. Perante a evidência do “desejo” da Virgem, a Igreja foi construída no cimo do monte apesar de todas as dificuldades.

Em a Corografia Portuguesa, pode ler-se que existia já em Arganil “uma ermida de N. Senhora do Mont’Alto (que) é imagem milagrosa (celebrando-se) sua festa a 8 de Setembro, em cujo dia há feira franca no terreiro dos Paços do Bispo”

Assim, ficamos a saber que, no fim do século XVII começo do seguinte (data da redacção da Corografia Portuguesa), realizava-se simultaneamente a festa e a feira que ao longo dos anos passou de 2 para 3 dias.

Com o passar do tempo, os feirantes chegaram à conclusão de que não precisavam de subir o monte no dia da Festa para fazerem o seu negócio: bastava esperarem os romeiros no fundo da ladeira.

Assim ter-se-á dado a separação da Festa e da Feira. Com o passar do tempo houve uma nova alteração como os romeiros eram cada vez mais, passaram a fazer a Feira no largo do Paço que era o melhor sitio para feirar, pois ficava perto do caminho para o monte.

Em 2006, a Câmara Municipal, deliberou transferi-la para o Sub-Paço, junto à ribeira de Folques, facto que em nada prejudicou o evento.

Em 1873, a data da festa e da feira acabam também por se distanciar. Assim, em 1873, já a festa se realizava a 15 de Agosto e a Feira em Setembro, situação que, com ligeiras actualizações, chegou até nós.

Desde 1980 a Feira do Mont’Alto constitui o núcleo de apoio e estrutura a uma outra – conhecida por FICABEIRA, com características novas, âmbito geográfico mais vasto e maior duração, que pretende ser cada vez mais uma feira de amostras das actividades industriais, comerciais e agrícolas de toda a região Beira serrana”.