Na terça-feira, 30 de Julho, data em que se comemoravam os 124 anos do nascimento do dr. Fernando Valle, a Santa Casa da Misericórdia de Arganil e a Editorial Moura Pinto quiseram evocar o homem, o humanista, o médico que ao longo da sua vida também serviu dedicadamente a instituição.
E foi junto à casa onde viveu Fernando Vale, hoje o Hospital de Cuidados Continuados com o seu nome, que o filho Mário Vale recordou a sua meninice, “eu nesta casa vivi (…) e traz-me recordações fantásticas, da vida de Arganil, desta rua onde eu brincava e jogava futebol, onde os miúdos desse tempo íamos para a escola por ali acima e vir hoje aqui, e ver esta casa onde sempre se exerceu medicina, onde o meu pais recebia os doentes, os tratava e ver que esta casa se transformou num Hospital de Cuidados Continuados com o nome dele, para mim é um orgulho muito grande”.
“Viver Arganil como nós vivemos era especial, nesta terra, porque era uma terra de gente muito boa, de gente muito sã, de gente que cuidava das pessoas e estar aqui hoje, ao pé da casa onde vivi tantos hoje e que hoje cuida de pessoas, para mim é um orgulho”, disse ainda Mário Valle.
Seguidamente e junto ao busto do dr. Fernando Valle, no antigo Hospital Condessa das Canas, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, António Carvalhais da Costa, começou por dizer, “a Misericórdia porque tem memória, parece que essa memória já não existe em muita gente, (…) quis homenagear o homem, o humanista, o médico”, que recordou sentidamente, “um homem que ia para a serra muitas vezes em cima de um macho que lavava o alforge onde vinha o pagamento das consultas, era milho, era um coelho, era uma galinha e quando chegava a casa o alforge vinha vazio, porque quando vinha no regresso havia gente pobre a quem dizia, tu tens é fome, a tua doença é fome. E dava aquilo que as pessoas lhe tinham dado como pagamento. Isto era humanismo, isto era o médico”.
E por isso e como afirmou o provedor a Misericórdia, “deixar passar os 124 anos do nascimento do dr. Fernando Vale, porque aqui viveu, porque viveu esta Misericórdia com muito amor o que muita gente parece que já não tem, o amor pelas coisas da vila. E nós temos que lutar por elas, vamos ter que lutar por elas, que lutar pela memória das pessoas boas que passaram por esta terra (…) e acima de tudo pela liberdade”, terminado por referir que o Fernando Valle “era a nossa referência política, o homem que lutava pela liberdade, que era contra regime. Por isso, nós hoje, é com muita honra que estamos aqui, a saudar este homem, junto ao seu busto, onde já estive a dizer-lhe que fomos enganados. E fomos mesmo e se calhar vamos ser outra vez enganados. Vamos esperar. Obrigado”.
Em representação da Editorial Mora Pinto, Ricardo Figueiredo agradeceu à Misericórdia “esta bonita homenagem que hoje faz ao dr. Fernando Valle, (…) nunca são demais as homenagens que possam fazer a este homem, a este político, a este médico de Arganil que viveu e calcorreou estas serras, fizesse chuva, fizesse sol sem nunca pedir nada em troca, a ajudar tudo e todos. (…) Mas foi também um politico, foi um republicano, um homem resistente que resistiu à ditadura e como está aqui escrito por Miguel Torga, nunca ninguém o vergou nem o desviou do caminho da tolerância, da justiça, da liberdade. Foi um homem de valores (…) e é este exemplo que nós não queremos deixar morrer enquanto pudermos e tivermos memória. Obrigado, Santa Casa da Misericórdia por esta homenagem”.
Uma homenagem a que se associou também o presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas, António Sérgio Martins, começando por considerar que “uma comunidade que não conhece a sua história, é uma comunidade sem memória, (…) uma comunidade que não cuida do seus e sem memória é uma comunidade sem futuro”. E por esse facto, fez suas as palavras ditas sobre Fernando Valle, considerando mesmo que “foi um verdadeiro homem da Misericórdia, enverga todas as Obras de Misericórdia ao longo da sua vida”.
“Isto não me espanta, porque Arganil é Arganil. E hoje está aqui a Arganil que eu conheci. A Arganil do meu tempo que é capaz de se dar inteira”, começou por dizer, emocionado, Mário Vale, recordando ainda a Arganil do seu tempo, “uma Arganil que se dava a toda a gente, (…) uma Arganil que soube sempre reconhecer as pessoas que lhe fizeram bem, as pessoas que lutaram por ela, as pessoas que se deram a Arganil. O povo de Arganil reconheceu isso sempre, sempre e nós arganilenses temos esse orgulho”, terminando por “vos agradecer esta homenagem e dizer que Arganil é sempre uma terra que nunca esqueceu ninguém. Arganil é uma terra onde sabe bem viver. Viva Arganil”.