ARGANIL: “UM ORGULHO DESMEDIDO” APRESENTADO NA ANMP: Livro revela o âmago do professor José Dias Coimbra

Apresentado no último sábado, dia 6, na Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), o livro de autoria do jornalista João Paulino “José Dias Coimbra: Um orgulho desmedido”, dá a conhecer a visão do professor, autarca e provedor da Misericórdia de Arganil, sobre o seu percurso de vida.

TO livro resulta de várias conversas entre o jornalista e o professor Coimbra que, recorde-se, faleceu no início do ano, e deram origem a um conjunto de textos onde, ao longo das 114 páginas da obra, sem constrangimentos e de forma intimista, José Dias Coimbra dá a conhecer as alegrias, as tristezas e as mágoas, intensamente vividas durante os seus 89 anos de vida.

Foi num auditório esgotado que, familiares, autarcas, provedores, políticos, companheiros e sobretudo amigos, ouviram testemunhos de quem de perto privou e vivenciou experiências com o malogrado professor Coimbra, nomeadamente António Carvalhais da Costa, o autor João Paulino, Nuno Moita (presidente da Câmara Municipal de Condeixa, em representação da Associação de Nacional de Municípios Portugueses), Luís Marques Mendes (político e comentador televisivo) e Artur Torres Pereira (ex-autarca e primeiro presidente da ANMP).

O director-geral da Santa Casa da Misericórdia de Arganil, que conduziu a cerimónia de apresentação do livro, lembrou as duas grandes “paixões” de José Dias Coimbra: autarquias e Misericórdia, e o amor pela família.

Ao considerar o professor Coimbra como “visionário”, o Provedor da Misericórdia de Arganil, deu como exemplos as lutas, juntamente com outros, pelo Piódão, pelo Rally de Portugal, pelo Ensino Secundário, pela Mata da Margaraça, mas também pela criação dos Lyons, pela recuperação do Hospital Velho, pela criação do Hospital Fernando Valle, pelo Lar, pelo Centro de Saúde e Urgências, para além de ter estado, ao longo de 40 anos, como Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Arganil.

«Foi um homem que lutou, mas era um Humanista», salientou António Carvalhais da Costa.

Com uma intervenção breve (…) «porque está tudo no livro», João Paulino sublinhou que os dias em que privou com o professor, dão-lhe a certeza de que José Dias Coimbra (…) «está entre os homens que nunca morrem».

A filha, Assumpta Coimbra, partilhou alguns momentos vividos, mas fez notar que a presença de todos os que participaram no lançamento/homenagem (…) «é um sinal de afeto e amizade», pelo que o pai (…) «ficaria feliz se pudesse aqui estar».

Artur Torres Pereira (autor do prefácio do livro) começou por esclarecer que conheceu o homenageado em 1979, quando ambos eram autarcas, ele em Sousel (Alentejo) e Dias Coimbra, em Arganil. Indo mais longe – tal como está plasmado no livro – Torres Pereira reportou o episódio que privou o professor Coimbra da liberdade (…) «pelo radicalismo de esquerda» corria o ano de 1975. José Dias Coimbra recorde-se, tinha sido presidente da Câmara Municipal de Arganil entre 1964 e 1974, mas depois dos 72 dias de cativeiro, voltou a leccionar e, em 1979, voltou a ser eleito presidente da Câmara Municipal de Arganil, lugar que ocupou até 1989. «O povo reergueu-o». «Foi um municipalista», vincou.

Torres Pereira, referiu ainda a capacidade diplomática de José Dias Coimbra, decisiva para a criação da ANMP e para a sua projecção na Europa Comunitária.

«Era um homem vertical, amigo leal, colega dedicado» tornando-se num (…) «Beirão Universal», concluiu.

Começando por explicar o início da amizade e admiração pelo professor Coimbra (que surge pelas mãos do ex-ministro Fernando Nogueira e de João Calvão da Silva, e cimentada por Torres Pereira e pelo também ex-ministro Álvaro Amaro), o antigo ministro dos Assuntos Parlamentares e actual comentador televisivo, Luís Marques Mendes, confessou que sempre teve (…) «uma enorme estima» pelo professor Coimbra, balizando-o com três palavras: «Um homem bom, integro e vertical».

Marques Mendes relevou o carácter do homenageado, considerando-o como (…) «homem notável, independente da notoriedade que tinha em Arganil ou fora de Arganil», sendo isso que fez (…) «com que estivéssemos hoje aqui. Viemos pelo livro, mas viemos sobretudo pelo homenageado», sublinhou.

No essencial, Luís Marques Mendes destacou cinco pontos-chave que definem o professor José Dias Coimbra:

– «A sua fortíssima preocupação social», dando como exemplo a miséria das crianças em meados do século XX, e em que o professor Coimbra várias vezes pediu a empresários, sapatos e tendo chegado a pagar através do seu salário, a alimentação dos seus alunos;

– «Era um homem de muitas causas… não era de casos», e dentro daquelas destacou a Solidariedade e o Municipalismo. «Este homem teve uma vida dedicada à Misericórdia de Arganil, mas também dedicada às Misericórdias em geral. Tem uma obra notável na Misericórdia da sua terra, mas tem uma obra não menos notável na defesa do sector das Misericórdias, e o mesmo é dizer, a cultura da generosidade, do altruísmo e da solidariedade», sublinhando que, nos últimos anos de vida (…) «lançou um movimento “Todos Somos Misericórdia” em torno duma reflexão do sector social em Portugal», considerando mesmo tratar-se de uma mensagem de passado, presente e de futuro (…) «É a mensagem da justiça social, da solidariedade e da generosidade. Este homem não se limitava à sua terra. Tinha uma visão maior, mais abrangente»;

– «O municipalismo era a sua grande paixão», foi presidente da Câmara de Arganil (…) «em dois momentos da nossa história. Antes do 25 de Abril e depois do 25 de Abril de 1974. Em tempo de Ditadura e em tempo de Democracia», e por muito que queiram fazer crer (…) «não foi um “vira-casacas”. Pelo contrário, o verdadeiro partido que tinha não era o partido A, B ou C, mas sim o partido de ser útil à sua terra e de ser útil à sua população». «A sua preocupação era servir, não era servir-se e, por isso, foi inqualificável que um homem destes tenha sido preso nos anos quentes de 1975 só por ter sido presidente da Câmara»;

– «Era um homem profundamente dedicado à família» (…) «que sofreu loucamente o falecimento da esposa, e sofreu brutalmente com a morte, prematura, do filho», Mas ao mesmo tempo viveu feliz pela forma como falava dos pais, e da actual esposa. Era um homem de família». «Um homem de caracter é, em primeiro lugar, um homem dedicado à família; um homem de princípios e de valores, é uma pessoa próxima da família»;

– «O seu sentido de humor» (…) «era uma pessoa com enorme sentido de humor», dando três exemplos que estão plasmados no livro. «Só têm sentido de humor, pessoas com inteligência e superioridade moral».

A terminar, Luís Marques Mendes deixou claro que o professor José Dias Coimbra (…) «era de facto exemplar, não pelos cargos que ocupou, mas da forma como os ocupou, no serviço que prestou ao outro e à comunidade», disse.

O cojense Mário Vale (filho do médico e um dos fundadores do Partido Socialista, Fernando Valle), não escondeu a emoção ao testemunhar os vários anos – desde 1955 – de ligação a José Dias Coimbra (…) «fomos pólos opostos. Não pensávamos da mesma maneira, mas fomos sempre amigos», tendo a mesma sido fortalecida quando, na Câmara Municipal de Arganil (…) «eu era vereador de um lado (PS) e ele era vereador do outro (PSD), mas nunca falámos nisso». Nas reuniões de Câmara (…) «sempre muito saudáveis, terminava sempre com um almoço. Era assim, e fomos criando uma amizade que durou até ao dia do seu falecimento», recordou.

«Entendemo-nos sempre muito bem, sobretudo quando eram coisa de Arganil, coisas da nossa terra. Da minha terra e da terra que ele adoptou, porque passou a ser um arganilense. Ambos queríamos o bem da nossa terra… e ambos lutámos por isso, ele mais do que eu, mas sempre o acompanhei. Por isso não podia deixar de estar aqui».

A concluir, Mário Vale destacou que (…) «eramos amigos e Arganil perdeu uma pessoa de grande prestígio».

Também o ex-presidente da Câmara Municipal de Arganil, Ricardo Pereira Alves, salientou a estima e consideração que todos na Associação Nacional de Municípios Portugueses tinham pelo professor Coimbra. «Foi um grande dirigente da ANMP, foi também um grande autarca (presidente da Câmara Municipal de Arganil) e que deixou bem marcado, no seu percurso, muitas iniciativas que ainda hoje permanecem e perduram na nossa terra», salientando o papel fundamental que teve (…) «no desenvolvimento industrial do concelho, e no lançamento pioneiro da FICABEIRA», mas também como Provedor da Misericórdia de Arganil onde teve (…) «um papel fundamental na criação do Lar Comendador Cruz Pereira, no Hospital de Cuidados Continuados Dr. Fernando Valle».

Ricardo Pereira Alves projectou o “envolvimento e tenacidade” do homenageado em prol do movimento das Misericórdias, recordando que foi graças a ele que Arganil acolheu em 2012, o 10.º Congresso das Misericórdias Portuguesas, cujo encerrando contou com a presença do então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva; mas também a sua paixão pela Mata das Misericórdias.

Por todos estes motivos, a Câmara Municipal de Arganil atribuiu-lhe, em 2008, a Medalha de Ouro do Concelho, ao professor José Dias Coimbra, no mesmo ano em que recebeu também a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, das mãos do Presidente da República (…) «num gesto de reconhecimento e de gratidão, por todo o trabalho no movimento cívico desenvolvido ao longo de toda a sua vida».

«Com a sua partida perdemos um homem grande, mas que nunca deixará de estar na nossa memória», vincou Ricardo Pereira Alves.

Quem também deu o seu testemunho foi o amigo e cúmplice, Jaime Marta Soares, Comendador, ex-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.

O ex-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares, confessou que chegar à amizade com o homenageado (…) «foi das coisas mais fáceis» que podia imaginar, sendo o relacionamento (…) «salutar, amigo e salutar».

Jaime Soares recordou que foi o professor Coimbra que (…) «calcorreou a cidade de Coimbra e descobriu esta casa (sede da ANMP)», destacando (…) «a sua entrega de alma e coração» ao serviço da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (…) «e do municipalismo em Portugal», tendo preferido este local – ainda decidido em vida – para a apresentação pública do livro (…) «quando o poderia ter feito em qualquer outro local».

O antigo autarca evidenciou, entre outros, o amor de José Dias Coimbra pela família (…) «e eu sei bem quão forte era esse amor», recordando alguns momentos extraordinários (…) «a quem eu chamava de intelectual irreverente, porque era um homem de dimensão, sem dimensão: solidário, dedicado, apaixonado por tudo o que era fazer bem à sociedade que o rodeava», mas também (…) «momentos de mágoa, de tristeza e de sofrimento». «Mas falava apaixonadamente da família, da esposa, da filha, dos netos».

Jaime Marta Sares concluiu que José Dias Coimbra (…) «era um universalista».

A concluir a sessão, o representante da ANMP assumiu que o professor José Dias Coimbra – por todo o seu contributo – (…) «é daquelas pessoas que nunca morrem», não podendo ser esquecida (…) «a sua história e o seu exemplo».