No sábado, na Casa da Cultura, o Município acolheu a apresentação e lançamento do projecto “METAMÓRṖHOSIS”, com a visualização do documentário, por António Luís Moreira, e a apresentação do livro por Carmen Serejo, com a participação de Jorge Velhote.
Este projecto conta a história das alterações que todos temos de sofrer para sermos o que somos a cada momento e aborda temas como o luto, o desgosto e a tristeza, assim como a centralidade para a condição humana, a fragilidade da vida e a importância de preservar o mundo natural.
O livro e o documentário contam a história de três mulheres, Elsa Claro, Lurdes Claro e Maria do Céu que vivem em três Aldeias do Xisto de Góis – Aigra Velha, Aigra Nova e Comareira – e de um homem Aires Joaquim, que conheceu todos os caminhos para chegar ao cimo da montanha e às estrelas.
A distância e a vulnerabilidade não os isolaram do mundo exterior, pelo contrário, enfrentar as alterações sociodemográficas que levaram ao declínio populacional destas aldeias do interior do país trouxe-lhes resiliência, pelo que a autarquia enaltece, uma vez mais, a iniciativa e dedicação do casal António Luís Moreira e Carmen Serejo a este projeto, no qual e como foi referido, autora do livro faz “uma reflexão sobre a existência, a incerteza e a resiliência” e “parte em busca de uma maior consciencialização sobre a fragilidade da vida e a importância de preservar o mundo natural”, enquanto no documentário o autor conta a história de três aldeias serranas vizinhas ao longo de quase um século, propondo “uma reflexão sobre como a autoestima individual e a consciencialização histórica permitem ultrapassar discursos de fatalidade e determinam o nosso futuro”.
Os autores “seguem o curso da vida de pessoas comuns que povoaram determinados lugares e neles construíram estórias que se foram perdendo no tempo”, como foi referido na apresentação do projecto por Fátima Gonçalves, e que “promovem uma reflexão sobre a Metamorfose Social, associada à destradicionalização das formas de vida, processo de libertação das formas sociais do passado que abre caminho para a formação de novas identidades e práticas sociais”, enquanto o filme “é uma contestação à crescente insatisfação com o presente, à visão de que o passado é uma utopia e o futuro um destino muito incerto que recusa o envelhecimento como um processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível que nos acompanha desde o nascimento até à morte”.
“Comprometido com a realidade do passado” e, com foi salientado também, “este filme prova como as mutações sociais surgem das grandes forças contemporâneas, criadas pelo próprio homem e pela necessidade de se adaptar às suas conquistas, mas também como a procura de formas de vida que valorizem a memória, sem ficar preso à história, sem temer contradições nem o desconhecido, permitem ultrapassar os discursos de fatalidade que sentenciam o futuro”.
Após a visualização do filme, foi a apresentação do realizador, António Luís Moreira, que nasceu e cresceu em Lisboa, frequentou o curso de pintura-escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e mais tarde engenharia no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa (IST), onde veio a obter o doutoramento e a agregação. Tem desenvolvido actividade docente e de investigação científica no IST nas áreas ligadas à energia e ao ambiente e já realizou diversos trabalhos videográficos de curta duração, incluindo aninações 3D dedicados a grandes causas sociais. Recentemente ingressou o núcleo de cinema documental KINO-DOC, no âmbito do qual METAMORPHOSIS é a sua primeira obra cinematográfica documental de longa-metragem.
Com prefácio de Jorge Velhote, seguiu-se depois a apresentação do livro de Cármen Serejo, autora com diversos livros publicados dedicado em particular a três mulheres, uma vez que, como referiu, “com elas aprendi que somos todos do tamanho do que cuidamos e que as raízes se agarram ao seu lugar no mundo” e que utiliza a fotografia para explorar a condição humana em diferentes contextos políticos, sociais e culturais, considerando que “a fotografia é a ferramenta para fazer as comunidades refletirem sobre as consequências sociais dos actuais decisores”.
Carmen Serejo, nasceu nos anos 60 numa pequena cidade de Moçambique, onde a sua família viveu circunstâncias políticas que a levaram a mudar-se para Portugal, onde viveu com familiares. Aqui estudou assessoria de administração e direção empresarial, porém, as suas primeiras experiências levaram-na a seguir uma carreira na área da ajuda humanitária e dos direitos humanos, a UNICEF, e foi aqui que teve acesso ao arquivo fotográfico desta agência da ONU.
O presidente da Câmara Municipal, Rui Sampaio, depois de confessar que “quando nos candidatamos a um cargo político o que está sempre na nossa cabeça é fazer obras, fazer coisas novas, melhorar a vida das pessoas”, reconheceu que “estes momentos nunca nos passam pela cabeça, mas digo-vos com toda a franqueza, que este é com certeza um dos momentos que mais marca o meu mandato”, agradeceu quer a António (Moreira), quer à Carmen (Serejo) “pelo legado que nos deixam, pelo documento para o futuro”, confessando que “me emocionei muitas vezes ao ver o filme e houve algumas vezes me trouxeram para outros tempos”. (…) O início do filme é fantástico, o Portugal de antigamente, que nós mais velhos também conhecemos e a frase do senhor Aires, no fim, ‘os novos ainda vão tendo esperança e nós vamos andando’, é uma frase fantástica, carregada de sabedoria e reflecte a leitura do que nos foi sendo transmitido no filme”.
“O filme também tem presente pessoas que já não estão entre nós, mas que recordamos porque convivemos com essas pessoas, o filme é também em memória de André Claro, que infelizmente já não está entre nós, mas que deixou uma marca muito forte e essa marca é a marca das aldeias do xisto”, recordou Rui Sampaio, acrescentado ainda que “houve um momento em que se fala de Manuel Claro”, com quem ia para o trabalho em Arganil em 1982, “comecei o meu percurso profissional em Arganil e nesses tempos aos vinte anos não tínhamos carro e quem muitas vezes me dava boleia era o senhor Manuel Claro, que também trabalhava em Arganil, por isso é uma pessoa de que me recordo, fazíamos a viagem e íamos conversando, momentos que recordei com alguma saudade”.
O presidente da Câmara Municipal quis ainda “prestar homenagem à Elsa, à Lurdes e Maria do Céu e também ao senhor Aires por tudo o que nos trouxeram, mas também pela resistência, pela resiliência, pela sua autenticidade e simplicidade com que nos transmitiram uma série de sentimentos e uma forma de estar que já não é muito comum hoje em dia”, agradecendo e prestando ainda homenagem a quatro pessoas que hoje são a grande alma de Aigra Nova, a Cátia, a Raquel, a Lurdes e a Joana, que são os rostos viseis de todo o trabalho que vem sendo desenvolvido na aldeia, deixando o seu “muito obrigado pelo trabalho que fazem e pela capacidade que têm em estarem sempre a reinventar-se”, terminando por dar a conhecer que “teremos nesta aldeia, pela segunda vez, o Natal das Aldeias do Xisto” e deixando “o convite para virem e sentirem o verdadeiro espírito de Natal”.