
Todos os países têm no seu calendário um dia reservado ao exaltar do orgulho nacional, um dia que, pelo seu simbolismo, procura celebrar a ideia de um povo sob a mesma bandeira e o mesmo desígnio.
Portugal, um País, mas simultaneamente uma Nação, tem uma longa história que faz jus a essa pretensa exaltação, sendo hoje uma realidade com mais de oitocentos anos alicerçada num Estado com as fronteiras mais antigas da Europa e uma língua universal, o Português.
Talvez por isso, mas não apenas por isso, o 10 de Junho é uma data simbólica, nela procura-se enaltecer as qualidades de um Povo, mas de igual modo de uma Pátria que é tão vasta como a sua língua oficial e da qual o expoente máximo será o Poeta Luis Vaz de Camões, produto da maior epopeia de que há memória para nós portugueses – os Descobrimentos.
A ele se deve a maior obra poética de todos os tempos na língua portuguesa, “Os Lusíadas”, mas que tão mal tratada tem sido nos últimos anos, como se fosse um repositório de toda a maldade da nossa alma lusitana, quando é precisamente o contrário.
Os Lusíadas são o reflexo dos Portugueses, e nessa obra encontramos todos os retratos que ainda hoje por aí vão existindo, desde o Velho do Restelo, até ao “emigrante”/navegador aventureiro, sem esquecer o regresso de um qualquer salvador do País na figura incontornável de El Rei D. Sebastião.
Os Lusíadas são o nosso retrato enquanto povo, e tenho cada vez mais a convicção de que nunca esteve tão atualizado como agora.
Bem sei que alguns desejam retirar os painéis de pinturas patentes na Assembleia da República, as quais representam a chegada dos Portugueses ao Continente Africano e a sua relação com as tribos aí residentes, ou mesmo derrubar o Padrão dos Descobrimentos e quiçá a Torre de Belém.
Tudo isso em nome de uma história reescrita ao sabor da nova moda do que é politicamente correto, esquecendo uma máxima desta disciplina que é a de que – as pessoas são o que cada uma das épocas é.
Mas enfim, para já vamos tendo o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e que mais não seja por respeito a essas nossas comunidades espalhada pelo mundo e que parecem ter mais amor pela Pátria, talvez fruto da saudade, do que os poucos residentes que por cá ainda vão existindo.
Mas este ano o dia de Portugal ficará marcado pela data em que os Professores perderam a razão da sua “luta”.
Com efeito, a diferença entre um político banal e um político astuto, radica na capacidade deste último ser capaz de virar o jogo a seu favor, mesmo quando tudo indica o contrário.
Nunca os professores poderiam ter levado o seu protesto para o 10 de Junho, pois aquilo que aparentava ser um protesto silencioso e com respeito pela data, rapidamente se transformou no seu inverso, manchando o simbolismo do dia da Nação.
Os cartazes que vários professores ostentavam nas mãos, e que diga-se têm marcado presença em outras manifestações e protestos, sem que alguém os tenha alguma vez repudiado, serviram como mote para que o Primeiro-ministro passasse a ser a vítima da suposta intolerância de uma classe profissional, ou pelo menos de alguns membros dessa mesma classe.
Para ajudar ao desenlace tivemos ainda a imagem de uma esposa, neste caso a do Primeiro-ministro, e que por sinal já terá sido professora, a defender com “unhas e dentes” o seu marido e, por esse país fora, muitas foram as mulheres que se reviram naquele papel de defesa dos seus!
Isto é básico e toca-nos a todos, especialmente ver uma mulher desesperada pela forma como o seu marido é tratado e caricaturado com desenhos que roçam o insulto. É caso para dizer que quem não se sente não é filho de boa gente.
Depois, assistimos ainda, à tentativa vã de um Primeiro-ministro tentar explicar que descongelou as carreiras, o que diga-se é verdade, assim como tentar explicar que a reposição do tempo integral para os professores terá de ser feita com espirito de justiça para todas as carreiras da função pública o que diga-se, em rigor, também é verdade.
Tudo isso, perante uma professora exaltada, e que não deixava o Primeiro-ministro de Portugal falar.
Ora, quem assistiu a esse triste episódio fez um juízo de valor e acredito que não terá sido benéfico para a classe dos docentes.
Obviamente, vários Sindicatos vieram a terreiro dizer que não se reviam naquela forma de protesto, mas tal protesto aconteceu em direto para as televisões e não há como esconder o seu impacto.
Termino dizendo, como seria bom se as nossas crianças pudessem, novamente, conhecer a grandiosa História de Portugal e a importância da língua portuguesa, sem medos e receios da intolerância das minorias iluminadas que tomaram de assalto o sistema de ensino e a cultura. Talvez aí, e nesse momento, todos nós dessemos conta da importância e da figura central do Professor para criar uma Sociedade realmente conhecedora do Mundo, mais justa, solidária e respeitadora dos valores fundamentais.