NOTA DA SEMANA (13 de Janeiro): E porque não a energia nuclear para a transição energética em Portugal?

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Temos assistido, com especial incidência nos últimos dois anos, à discussão sobre as alterações climáticas e à necessária transição energética, passando-se do consumo de energias provenientes de fontes fósseis para as ditas energias limpas.

Esta transição representará o momento fundamental pelo qual poderá ser assegurado o futuro da Humanidade neste nosso Planeta, pois, com a concretização da mesma, existe a perspetiva de que os níveis de poluição possam vir a ser reduzidos a uma escala que assegure o processo de renovação e estabilização natural do Mundo.

Contudo, se é verdade que cada vez mais há a consciência da necessidade de preservação do ambiente, já os custos económicos e sociais para que essa mesma transição energética ocorra não têm merecido a mesma atenção.

No entanto, o recurso a energias limpas, proveniente de fontes renováveis e amigas do ambiente, carece ainda da tecnologia que possibilite o seu armazenamento, nomeadamente o desenvolvimento de baterias com essa capacidade.

E para o desenvolvimento deste género de tecnologia o lítio é um componente essencial e muito procurado pela indústria deste setor.

Portugal tem, aparentemente, reservas muito significativas deste mineral, mas como já percebemos, a sua exploração futura tem já contestação marcada por parte de grupos ambientalistas, das próprias comunidades e respetivos Municípios onde poderão ser instaladas estas eventuais explorações mineiras.

Obviamente, a transição energética para que possa ocorrer terá que ter alternativas e soluções para a mesma, sendo que não é possível ter “sol na eira e chuva no nabal” em simultâneo.

Em termos económicos, a substituição das fontes fósseis por fontes renováveis e amigas do ambiente aumentará, irremediavelmente, os custos de toda a cadeia de transformação dos produtos, com reflexo no preço final junto do consumidor, e não falo só apenas dos combustíveis, mas de todo um vasto leque de consumíveis do nosso dia-a-dia.

Como resultado desse aumento de custos, temos já “entre mãos” a subida da taxa de inflação, cuja maior fatia é resultado da alteração do paradigma energético, sendo que na Zona Euro o valor deste indicador atingiu, em Dezembro, 5% e em Portugal 2,8%.

Por outro lado, também na parte social sucedem repercussões deste processo de substituição energética, nomeadamente o desemprego em setores tradicionais, como o caso da refinaria de Matosinhos, cujo encerramento empurrou para o desemprego, direta e indiretamente, mais de um milhar de trabalhadores.

Não tenhamos dúvidas de que a reconversão energética originará, a prazo, novos empregos, mas até que esse nível de empregabilidade atinja valores adequados à compensação dos postos de trabalho entretanto extintos, ainda demorará o seu tempo.

Depois, importa referir que nem todos os Países estão disponíveis para cumprirem as metas dos vários tratados ambientais, aspeto que não deixa de ser relevante para esta discussão.

Países como a China, a Rússia ou a Índia, não fazem pretensão de abdicar da sua competitividade, ou mesmo da sua taxa de crescimento económico, para satisfazerem os níveis de redução da poluição, comprimindo e pressionando ainda mais as sociedades ocidentais para que sejam estas a satisfazerem esses níveis de redução.

Como é óbvio, não podemos deixar de refletir sobre isto, porque se o esforço para reduzir as emissões de gases poluentes, por exemplo, não for repartido por todos os Países, tal originará um desequilíbrio de forças a nível mundial, com maior penalização para as democracias ocidentais.

E será conveniente recordar-se que a China, a Rússia e a Índia, são dos maiores responsáveis pela emissão de gases causadores do efeito de estufa no nosso Planeta.

Por outro lado, recentemente a Comissão Europeia concluiu, num documento de trabalho, que a energia nuclear poderá ser a solução para assegurar a transição energética, permitindo acelerar a descarbonização, ajudando a reduzir a emissão de dióxido de carbono da produção da eletricidade.

Caso venha a ser aprovado o referido documento, será possível que as centrais nucleares possam aceder aos apoios já existentes para as energias renováveis, algo que suscitou reações de vários quadrantes políticos, científicos e, obviamente, ambientalistas.

Contudo, tudo tem um preço.

Hoje a energia nuclear tem índices de segurança muito significativos e a sua produção é “limpa”, por alguns até é considerada a energia mais limpa, embora os seus resíduos sejam extremamente nocivos.

Em contraponto, a longevidade dos reatores é muito significativa, o que poderá permitir a transição energética de forma mais serena e sem tantos sobressaltos económicos e sociais.

Portugal, ao contrário do que muitos possam pensar, tem um longo historial de estudo do nuclear, datando de 25 de Abril de 1961 a primeira fusão deste género ocorrida num reator instalado no País e que apenas foi desmantelado em 2019.

Esse reator estava localizado no Campus Tecnológico e Nuclear, sito na Bobadela, junto a Sacavém, ou seja, bem às portas de Lisboa e pertença do Instituto Superior Técnico.

O mesmo reator esteve dedicado ao estudo científico, tendo sido ainda o único destinado ao conhecimento em toda a Península Ibérica.

A instalação de tal reator, no início da década de sessenta do século XX, fazia parte de um projeto destinado à eventual instalação de Centrais Nucleares para produção de energia no território nacional, numa ótica de autosuficiência energética.

Curiosamente, acabaram por ser os Espanhóis a construir as Centrais Nucleares, nomeadamente a de Almaraz em Cáceres, e que dista cerca de 100 Km da fronteira Portuguesa, sendo refrigerada pelo Rio Tejo, a qual foi recentemente alvo de renovação de licença de funcionamento até 2027.

Mas não apenas esta central viu sua licença de funcionamento renovada por Madrid, também a Central de Vandellos, em Tarragona, obteve essa autorização, tendo em vista a efetiva transição energética.

Assim, Portugal parece andar sempre ao contrário dos outros, assume ser contra o Nuclear, mas não encontra alternativa para a transição energética, e quando a vislumbra – logo um coro de contestação surge.

Era bom que, na campanha em curso para as eleições, alguém se lembrasse de explicar como será possível a transição energética em Portugal, sem que esta provoque uma grave crise económica e social…