NOTA DA SEMANA: Afinal a escravatura não acabou, ela existe na China

Nas últimas semanas temos vindo a assistir ao desmantelamento da conhecida ordem internacional, ou pelo menos a uma aparente reformulação desta, por via da política de tarifas que os Estados Unidos da América têm vindo a anunciar.

Apesar de entender que esta radicalização da política económica norte-americana poderá prejudicar, em primeira mão, os próprios americanos, esta teve um impacto ideológico extremamente impressionante.

E isto porque, desde algumas décadas a esta parte, que não se via uma certa esquerda europeia a defender as virtudes do comércio internacional e a livre circulação de bens.

É verdade, hoje muitos dos partidos europeus que eram contrários à globalização e ao livre comércio, de repente, passaram a idolatrar as vantagens desse “modos operandis” do capitalismo.

Contudo, e porque não há almoços grátis, tal apenas sucede porque a República Popular da China é quem mais tem beneficiado com a adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), tornando-se no maior exportador mundial, beneficiando de uma mão-de-obra barata e de um regime autoritário que gere a população com base numa política de créditos sociais.

Está pois explicada a repentina adesão de uma certa esquerda, por sinal extrema, aos benefícios do liberalismo económico que ao longo dos últimos 20 anos tem permitido o crescimento do poder chinês e da sua revolução tecnológica.

Ao contrário do que sucede na Europa e nos Estados Unidos da América, onde os governos não financiam o Setor Privado e quando recorrem a este é para proceder à aquisição de bens e serviços, na República Popular da China é o Partido Comunista Chinês que define as áreas prioritárias de investimento e injeta quantias extraordinárias de dinheiro para o crescimento e desenvolvimento das mesmas.

A prática de atribuição de subsídios pelo governo Chinês às suas empresas chama-se de concorrência desleal, no entanto, e apesar dos inúmeros processos e infrações reconhecidas pela OMC a esse País, as consequências têm sido nulas ou inaplicáveis.

Obviamente, interessa à República Popular da China ser vista aos olhos internacionais como sendo uma referência de estabilidade no comércio, para assim conseguir ir mantendo o seu nível de crescimento económico e a dependência das economias ocidentais da sua capacidade produtiva.

Ou seja, a China mercadeja por esse mundo fora, mas impede que as ideias liberais e democráticas possam entrar na sua esfera continental e seja acessível à sua população.

Sucede porém, que a Europa ao invés de aproveitar a porta aberta pela administração de Donald Trump para reduzir a sua dependência da China, tem manifestado o inverso, através das deslocações e declarações como as de Pedro Sanches, Primeiro-ministro espanhol, a Pequim para bajular o ditador Chinês.

Nas próximas semanas seguir-se-á a visita da Presidenta da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen e do Presidente do Conselho Europeu, António Costa, para, de igual forma, bajularem o ditador Chinês, Xi Jinping, enquanto este continua a vilipendiar a capacidade produtiva das democracias ocidentais.

Mas isto ainda não é o mais grave!

Se bem me recordo, alguns tempos atrás, assistimos a uma série de polémicas sobre a exploração dos europeus de inúmeros povos africanos por via do colonialismo, ao ponto de até a História ser alvo de um revisionismo atroz, e tudo sob a proteção de uma cultura “Woke” que a extrema-esquerda tem vindo a colocar na agenda mediática.

Já para não falar das recentes discussões sobre a escravatura e a exploração de mão-de-obra africana pelas potências coloniais e da necessidade de reparação desses povos!

Pois bem, essa mesma esquerda “Maoista” sobre a República Popular da China pouco diz, ou sequer se incomoda e, em bom rigor, a escravatura do século XXI continua a existir no império do oriente.

Sabem os governos europeus, sabem as administrações americanas, sabem as Nações Unidas e sabe a extrema-esquerda portuguesa, que na República Popular da China existe trabalho escravo, e que algumas minorias têm sido, ao longo da existência do regime comunista chinês, exploradas e dizimadas.

Na região de Xinjiang, mais de um milhão de uigures e membros de outras minorias, estão sujeitos a trabalhos forçados, muitos deles deslocados à força das suas atividades tradicionalmente ligadas à agricultura e pecuária, para empresas privadas chinesas.

Ou a forma como os condenados a penas de prisão são tratados, encaminhados docilmente para campos de reeducação social e colocados a trabalhar gratuitamente para interesses privados apadrinhados pelo Governo Chinês!

Na China estão instituídos os centros de educação e formação profissional, assim como um programa de redução da pobreza e ambos contribuem com mão-de-obra forçada para os interesses do Partido Comunista Chinês, ou seja, fornecem trabalho escravo.

Imaginem o que seria se em Portugal algum político moderado se lembrasse de dizer que os presos condenados por homicídio e violação deveriam cumprir penas de prisão com trabalhos forçados, ou os beneficiários do Rendimento Social de Inserção passassem a ser integrados em centros de educação forçados, isto para não dar o exemplo de algumas minorias.

Enfim, esta é a moral europeia – manter o estilo de vida, comprando o mais barato possível e alvitrando a cartilha dos direitos e liberdades. Pelo meio, deixa-se que a República Popular da China explore mão-de-obra para vender mais barato e chama-se ao Trump “maluco”.

Como seria bom exportar os ideais do 25 de Abril também para a República Popular da China…