Foi no dia 14 de Junho que a aldeia presépio do Piódão viu ser-lhe atribuída o Prémio Ibérico Fomento de las Artes y el Diseño (FAD), na categoria cidade e paisagem, após uma intervenção superior a 900 mil euros, promovida pelo Município de Arganil e inaugurada em Novembro de 2022.
O projeto, da autoria dos arquitetos Paula Del Rio e João Branco, possibilitou uma ação discreta, harmonizando o largo que recebe quem visita a aldeia histórica e quem nela ainda reside.
A somar a esse prémio tantos outros, designadamente a atribuição do galardão de sétima maravilha de Portugal, lhe são reconhecidos, pelo menos a partir do final da década de setenta do século passado até ao momento atual.
Mas será que alguém se lembra do percurso que esta aldeia de referência percorreu para atingir este patamar e o papel de várias pessoas?
E alguém se lembra do mal da “lepra branca” de que padecia e da completa ausência de acessos e de como o seu potencial foi descoberto?
O Piódão, sendo uma aldeia típica de xisto, faz parte do restrito leque das Aldeias Históricas de Portugal, conjuntamente com Almeida, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto e Sortelha, tendo-se lhes juntado em 2000 e 2006, respetivamente, Belmonte e Trancoso.
Classificação que foi desvalorizada ao longo dos últimos anos, em benefício da rede das aldeias de xisto, esquecendo-se que no seio das aldeias históricas ela é única e na rede de aldeias de xisto é apenas mais uma!
Agora, esta aldeia incrustada na Serra do Açor é o centro do turismo da região, a referência e o porta-estandarte na promoção do interior do país e das belezas do nosso Portugal.
Serão já poucos os que se recordarão da campanha que colocou o Piódão nas estações dos Caminhos de Ferro Portugueses, onde a imagem da sua pitoresca Igreja (branca com as suas linhas azul céu) chama a atenção em contraponto às casas escuras cobertas de xisto da aldeia.
Foi em 1976, por despacho ministerial, que a aldeia do Piódão foi classificada como Imóvel de Interesse Público, depois de em 1974 o arquiteto Eugénio Correia ter conhecido as construções pitorescas e, associando um árduo trabalho entre o prof. José Dias Coimbra e elementos da Comissão de Melhoramentos do Piódão, passar a ser alvo de atenção dos investimentos da Câmara Municipal.
Hoje, é fácil elogiar o Piódão, aldeia ganhadora de prémios e reconhecida como a melhor imagem de promoção do Concelho de Arganil, mas nem sempre foi assim!
Longe vão os tempos em que os investimentos canalizados para essa aldeia eram mal vistos por uma parte do poder político local e uma parte da sociedade arganilense, fosse nas acessibilidades, fosse na eletrificação ou fosse no saneamento.
Os pequenos poderes, à época, por ignorância, ou simples inveja, atacavam esses investimentos, esquecendo que foi com um projeto de eletrificação / iluminação, o qual ganhou inclusive também um prémio, que o Piódão ficou conhecido como aldeia presépio.
Não podemos esquecer o eng. Lino Teixeira, responsável pela então Administração Florestal do Concelho de Arganil, essencial para abrir estradões e acessos por essa Serra do Açor, muitas das vezes recorrendo à engenharia militar.
Ou mesmo o papel, anos mais tarde, do arquiteto António Monteiro, coordenador do Plano de Recuperação e Salvaguarda da aldeia do Piódão.
Estou certo, de que se não tivesse havido visão e capacidade de antecipar o potencial da aldeia do Piódão, pelas pessoas que citei, das quais é justo recordar o Prof. José Dias Coimbra, mesmo que custe a alguns, a Serra do Açor, o concelho de Arganil e a região, estariam bem mais pobres.
Que bom seria que a visão que alicerçou no tempo a descoberta do Piódão, e onde se vai pendurando a projeção do futuro de alguns, servisse também para reconhecer os erros nas decisões e nos comentários que as sustentam, pois apenas conduzirão à perda para a comunidade.