NOTA DA SEMANA: O Tutti Frutti da política

Foi em 2016 que a salada de frutas começou a ser investigada, numa taça em que apenas entravam laranjas e morangos, talvez adocicados com um cálice de vinho do porto e uma pitada de açúcar.

Volvidos estes anos todos, verificamos que a justiça, mais uma vez, passou para a praça pública, dando lugar a uma judicialização da política, mas sem que os principais suspeitos tenham sido ouvidos e sequer constituídos arguidos.

Como designação para este processo, o povo foi brindado com mais um nome extraordinário, a revelar a constante preocupação que Policia Judiciária tem em inovar.

E não é para menos, já que se não existem os meios suficientes e necessários para investigar os maiores delapidadores do “bem comum”, pelo menos existe a astúcia para se escolherem nomes sugestivos – tutti frutti!

De acordo com o que é público, via comunicação social, sabemos que este será um inquérito que visa perceber a eventual existência de favorecimentos junto de dirigentes e militantes dos dois maiores Partidos Políticos Portugueses, neste caso o Partido Social Democrata (PSD) e o Partido Socialista (PS).

O manto de suspeição é de tal ordem pesado que nem dois Ministros do Governo da República escapam (Fernando Medina e Duarte Cordeiro) e, em abono da verdade, sem que tenham tido, até ao momento, qualquer possibilidade de defesa.

Poderá parecer um pormenor de menor dimensão, mas não o é, pois são estes acontecimentos que também delapidam a Democracia Portuguesa.

Percebemos agora, que está na calha mais um megaprocesso judicial em que o jogo dos favores entre, supostamente, adversários políticos terá sido trocado, eventualmente, por negócios no âmbito da contratação pública, mas também na colocação de mais uma leva de “boys” dos morangos com açúcar e das laranjinhas que apenas desejavam “um ordenado”, sem terem que trabalhar muito.

No entanto, e se bem me recordo, o termo tutti frutti, pelo menos na minha geração, sempre nos fez lembrar coisas mais ou menos adocicadas, associadas a uma leviandade e leveza a roçar a insensatez, o desleixo e a promiscuidade.

Pois bem, quando olho para a geração dos políticos alegadamente envolvidos neste processo, com nome a lembrar o Verão que se aproxima, percebo então que é mais uma geração perdida que caiu na tentação, sucumbindo ao dinheiro fácil e ao emprego frugal num qualquer gabinete autárquico, seja na Câmara ou seja na Junta, de mais um Concelho em Portugal.

Tenho pena, e lamento, que os autarcas sérios sejam prejudicados pelos tutti frutti que por aí vão pululando nos aparelhos partidários, cujo principal problema foi nunca terem tido necessidade de trabalhar, lutar pela vida e fazerem pela vida.

Contudo, se para uns o termo tutti frutti radica numa ideia de favorecimento entre os dois maiores partidos do regime, para outros, tutti frutti simboliza uma mistura de géneros, ou falta deles, como bandeira politica para ocupar a agenda mediática.

Veja-se, a título de exemplo, o tutti frutti de género que vai lá para os lados do Bloco de Esquerda, onde a preocupação com as minorias se sobrepõe às necessidades das maiorias, e onde a moda é pertencer a uma minoria, seja ela qual for, mesmo que seja a da “esquerda caviar”.

Assim, tutti frutti é o termo que melhor define uma certa seita de políticos em Portugal, sejam estes pertencentes à direita ou à esquerda.

Os políticos tutti frutti estão por aí, uns em busca do vil metal e dos lugares fáceis, outros procurando o género sexual que melhor os possa identificar, de preferência que seja de uma minoria, seja ela qual for!

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)