NOTA DA SEMANA: Os 50 anos de Abril!

Foto: DR

A história faz-se a todo o instante, no entanto, esta apenas se escreve e ganha forma, depois de alcançado o necessário distanciamento temporal em relação aos factos que poderão dar origem ao seu registo nas enciclopédias do conhecimento.

Com o título em cima apresentado, os cinquenta (50) anos de Abril, poderão alguns pensar que terei errado nas contas relativas à data da “revolução dos cravos”, afinal, de 1974 a 2023, distam quarenta e nove anos e não cinquenta.

Contudo, a alusão aos cinquenta anos é intencional, não porque o 25 de Abril foi feito há cinquenta anos, como atrás já dei nota, mas porque foi a 19 de Abril de 1973 que foi fundado o Partido Socialista Português.

E esse marco não pode ser dissociado da democracia que hoje temos no País, pois se assim não fosse, estou certo, os ventos da liberdade não teriam soprado com a força suficiente, não apenas para derrubarem o antigo regime, mas acima de tudo, para não terem deixado que outro regime, porventura mais opressivo, tivesse ocupado a “cadeira” do Estado Novo.

É por isso, que a história tem sempre que ser escrita com algum distanciamento, não apenas crítico, mas de igual modo temporal.

Quando Mário Soares se reuniu na cidade alemã de Bad Munstereifel, com mais 26 membros da Ação Socialista, com o propósito de fundar o Partido Socialista (PS), e onde pontificaram figuras como Fernando Valle, que tanto diz à nossa região, estariam todos longe de perceber o impacto desse ato de coragem.

À data, o já “animal político” Mário Soares, justificava a constituição do Partido, não apenas porque intuía para breve a queda do regime, mas acima de tudo, porque percebia a necessidade de credibilizar a ideia de uma democracia para Portugal. Democracia esta, que carecia de Partidos capazes de obstaculizar os modelos marxistas-leninistas que ambicionavam concretizar uma ditadura do proletariado.

Com efeito, podemos hoje afirmar, que a história da democracia portuguesa ficou assegurada com o nascimento do PS em 1973, criado do lado certo da história e da geografia, neste caso na Alemanha que se encontrava liberta do jugo soviético.

Imaginem o que teria sido se o PS tivesse nascido no lado Alemão subjugado pela ditadura do regime comunista?

Hoje, considero que o 25 de Abril, como marca da nossa história, não pode ser entregue apenas a uns quantos defensores, quando pertence ao conjunto de todos aqueles que são democratas, independentemente do Partido ou quadrante politico a que pertencem.

Contudo, é bom que tenhamos sempre a consciência de que, nem todos os que lutaram para que houvesse um 25 de Abril, alguma vez o tenham desejado como espaço de liberdade, mas antes, como o momento de transição para outro modelo de ditadura, porventura bem mais repressiva do que o regime anterior.

Assim, não posso permitir a apropriação por parte de alguns, dos ideais de Abril, e para que isso não aconteça, faço sempre o exercício de memória da história para me recordar do primeiro Abril, neste caso o de 1973.

Não obstante, tenho hoje sérias dúvidas, de que muitos dos que estiveram na fundação do Partido Socialista, aceitassem na atualidade que o seu legado fosse desbaratado pela incúria e irresponsabilidade
de alguns políticos…

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)