NOTA DA SEMANA: Os políticos não respeitam os eleitores!

Há alguns dias atrás a Assembleia da República reprovou, por maioria, uma moção de censura contra o atual Governo de Portugal, tendo por base a alegada existência de uma empresa, supostamente da área do imobiliário, pertença do atual Primeiro-Ministro, Luís Montenegro.

A dita moção foi apresentada pelo partido CHEGA, alegando a ausência de esclarecimentos e eventuais incompatibilidades entre o suposto detentor da empresa e o cargo de Primeiro-Ministro, concluindo-se no debate que a empresa era anterior à eleição de Luís Montenegro como líder do Partido Social Democrata (PSD), e muito antes de ser líder do atual Governo.

Durante a discussão da moção de censura ficámos a saber os dotes para a agricultura do atual Primeiro-Ministro, falando de árvores de fruto, lameiros e vinhas, mas também, e não menos importante, de parte da vida pessoal e até dos projetos futuros para a família de Luís Montenegro.

Caímos na devassa, mesmo que autorizada, da vida íntima de um político, seguindo em direto um rol de intervenções que mais pareciam lembrar as “velhas de soalheiro” a discutir no adro da Igreja as cores das meias do padre, e a queda do sacristão para a bebida.

Afinal, há uma casta de políticos que pouco ou nada sabem da vida e não permitem que outros políticos tenham vida para lá da política, ou antes desta.

Afinal, há políticos que o são apenas porque não sabem fazer mais nada e isso é impressionante, porque é disso que são feitos os políticos medíocres – o não saberem fazer mais nada!

Inevitavelmente, a moção de censura acabou reprovada e o Partido que a propôs foi crucificado em praça pública pela diatribe dos políticos na Assembleia da República, os quais justificaram o chumbo dessa mesma moção com o argumento de que mais não era do que uma tentativa de fazer mudar os holofotes do armário dos esqueletos do CHEGA para o armário do Primeiro-Ministro.

Em bom rigor, chumbada a dita moção de censura caberia a todos os Partidos políticos encerrarem o assunto, e mudar de assunto, pelo menos até que novos dados surgissem.

Que sucedeu então?

Chumbada a moção, todos os partidos que votaram contra esta, ou se abstiveram da mesma, lançaram uma cortina de suspeita, considerando os esclarecimentos prestados pelo Primeiro-Ministro insuficientes, alimentando dúvidas e suspeitas sobre a honorabilidade do líder do Governo.

Os Partidos da oposição optaram por queimar em lume brando Luís Montenegro, mesmo tendo sido chumbada a moção de censura!

Que poderia então ser feito se não mais do que o Primeiro-Ministro pedir o esclarecimento sobre o posicionamento dos demais Partidos da oposição, abrindo a porta a uma moção de confiança para, de forma clara e transparente, obrigar a que sejam tiradas as devidas consequências de todos aqueles que dizem que existe incompatibilidade entre Luís Montenegro Primeiro-Ministro e Luís Montenegro com passado de gestor!

Que mais poderia fazer o Primeiro-Ministro do que obrigar que todos aqueles que dizem ser necessários mais esclarecimentos e que as dúvidas são inultrapassáveis, senão levá-los a assumir as consequências desses ataques e posicionamentos!

Com essa decisão o Primeiro-Ministro encostou à parede toda a oposição de esquerda, obrigando-a a retirar as devidas consequências e, dessa forma, manter, ou derrubar, o Governo.

Sucede porém, que ninguém quer eleições, nem a esquerda, a começar pela extrema-esquerda, e muito menos o Presidente da República.

Surgiu então o Partido Comunista Português (PCP), que num momento de lucidez e apurado instinto de sobrevivência, resolveu o problema e avançou com uma proposta de moção de censura, esvaziando o desafio do Primeiro-Ministro, dando a mão ao Partido Socialista (PS) e salvando a pele a Pedro Nuno Santos.

O PCP, do alto da sua longa história e com base no seu manual de procedimentos que Álvaro Cunhal deixou no cofre da respetiva sede, anunciou a sua moção de censura, sabendo de antemão que esta será chumbada e apenas porque… Pedro Nuno Santos, e o PS, se irão abster.

Que pensam então os eleitores?

Coloca-se em dúvida a honestidade do Primeiro-Ministro, lançam-se uma série de acusações contra este e a sua família, mas no entanto não se aprova a devida censura que se impõe por parte de quem acusa.

O Governo, tudo assim o indicia, sobreviverá a duas moções de censura, sem ter maioria no Parlamento Nacional, mas o seu líder continuará a ser acusado e isto é o completo desrespeito pelos eleitores, os quais são relegados para segundo plano, por mera questão de tacticismo político.

Uma moção de censura não é uma moção de confiança, mas ambas podem dar o mesmo resultado – ou a queda do Governo ou a sua manutenção.

Assim, exige-se que todos assumam a sua responsabilidade: se o Primeiro-Ministro não é de confiança por parte de quem censura, mas também de quem acusa, então vote-se em conformidade. Caso contrário, encerre-se o assunto e respeitem os Portugueses eleitores de cada um dos Partidos.

Na minha ignorância, com tanta crítica, queixume e suspeitas lançadas pela atual liderança do PS, este Partido só sairá desta situação se for consequente com as acusações que faz, nomeadamente a de que o Primeiro-Ministro não está em exclusividade, e a consequência será votar ao lado do PCP e derrubar o Governo.

Se assim não for, é tempo de mudar o líder do PS, sabendo-se que este Partido tem gente com muito mais qualidade e capacidade, como são os casos de José Luís Carneiro ou Francisco Assis.

Para finalizar, importa frisar que quem se está rir com tudo isto e a ganhar votos, infelizmente, é o CHEGA e André Ventura, e tão só porque já ninguém respeita os eleitores.