Já todos sabemos que estamos em crise, e se não estamos, para lá caminhamos em passo apressado.
A Inflação continua a subir, e com ela, o aumento do custo de vida de todos nós.
A somar a isso temos agora as restrições energéticas, bem como a situação de seca extrema em que grande parte do País se encontra.
Talvez reflexo de tudo isso, é já público o encerramento de diversos complexos desportivos, designadamente piscinas, com especial incidência no sul do País, o que suscita o debate sobre a proliferação de inúmeros equipamentos ao longo das últimas décadas, cujos encargos de manutenção são hoje demasiado significativos, ao mesmo tempo que as comunidades que servem, muitas delas, não terão já dimensão que justifiquem a sua continuidade.
É claro que dizendo as coisas desta forma, parece insinuar-se que nem todos terão os mesmos direitos. Contudo, não se pretende nada disso, pretende-se antes que todos os responsáveis tenham a plena consciência de que muito do investimento realizado nos últimos anos talvez nunca se tenha justificado e agora, muito menos se justificará.
No entanto, não foi isso que me trouxe aqui a estas linhas, embora a forma como se gerem os dinheiros públicos seja, cada vez mais, pertinente para o futuro do País e de todos nós.
Embora em contexto de crise anunciada, Portugal tem vivido sempre, nomeadamente nos últimos 20 anos, em estranhos paradoxos, senão veja-se o caso.
Sabemos na data de hoje, que a receita fiscal do Estado nunca foi tão alta, desde 2010, gerando, de acordo com os últimos dados, um excedente de mais de mil milhões de euros (1.113 euros), e apenas no primeiro semestre do ano em curso, resultado de um crescimento dos impostos de 29,7% face ao ano transato (2021).
Sabemos ainda, que dos impostos indiretos previstos serem arrecadados em 2022, 98% foram já atingidos no período compreendido entre Janeiro e Maio, conforme nota da Unidade Técnica de Apoio ao Orçamento (UTAO).
Verificamos então que, apesar da economia estar a dar sinais de rutura, o Estado continua a amealhar e a engordar a sua receita, fruto do aumento de custos dos produtos, o que, invariavelmente, conduz ao crescimento da receita proveniente dos impostos.
Apetece dizer que o mal de uns é o bem de outros, e neste caso, o mal dos cidadãos é o bem do nosso Estado, quando não o devia ser.
Obviamente, para quem percebe o mínimo de economia, sabe que é nos ciclos de contração económica e de crise, que o Estado tem que injetar dinheiro e intervir, e não arrecadá-lo como tem vindo a suceder.
Estamos, como aliás é hábito em Portugal, a agir ao contrário do que se passa no resto do mundo.
No atual momento, esta crise tem servido apenas para engordar a máquina do Estado, mas sem que daí sejam visíveis quaisquer resultados positivos para os cidadãos, nomeadamente no acesso aos serviços públicos, e nunca estes tiveram tantos recursos alocados como hoje.
Por outro lado, todo o excedente que tem sido gerado acabará por se perder por entre reformas que não saem do papel e outras que, saindo para o mundo real, rapidamente farão esfumar os dinheiros agora obtidos na cobrança fiscal.
As empresas precisam de ser capitalizadas, o Setor Social precisa de reforço de verbas, o investimento privado terá de crescer, mas nada disso parece estar a acontecer!
Por onde anda então o nosso dinheiro, se ninguém parece encontra-lo?
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)