Após doze anos sob liderança socialista, a Câmara Municipal de Penacova foi reconquistada pelo PSD, numa candidatura liderada pelo jornalista da delegação de Coimbra da RTP (com actividade profissional suspensa), Álvaro Coimbra.
A COMARCA DE ARGANIL (CA): Como foi reconquistar uma Câmara ao Partido Socialista, tanto mais que o seu adversário directo, para além de ter sido presidente da Federação do PS-Coimbra, é deputado na Assembleia da República?
ÁLVARO COIMBRA (AC): Tudo isto parte muito da vontade do eleitorado. Estava a fechar-se um ciclo de 12 anos de presidência do dr. Humberto Oliveira – que não podia voltar a recandidatar-se – e por isso estavam criadas as condições para que, se o trabalho fosse bem feito, se a nossa mensagem passasse, pudesse haver uma mudança.
Claro que era difícil, era complicado, mas acho que as pessoas entenderam a nossa mensagem e optaram pela mudança porque deverão ter sentido que essa mudança era necessária, e o concelho de Penacova precisava de um rumo diferente.
Nos últimos anos houve coisas positivas, mas também houve muitas áreas – principalmente na criação de emprego e nos estímulos à economia local – onde o trabalho não foi satisfatório e era preciso mudar.
E as pessoas perceberam a nossa mensagem e escolheram mudar de rumo.
CA: Esta mudança de rumo foi logo notada na noite da sua vitória, quando ao dirigir-se aos penacovenses que “ainda havia muito a fazer” e que o grande objectivo era colocar Penacova “no patamar que merece”, denunciando mesmo que tem sido desperdiçadas oportunidades de investimento… é isso?
AC: Toda a gente concorda que Penacova em várias áreas é um diamante por lapidar: na área do Turismo de Natureza foram feitas algumas coisas nos últimos anos (trilhos e circuitos de trail) escolhendo a aptidão para este tipo de Turismo, mas, mesmo aí há muita coisa para fazer. Acho que falta o tal clique para que Penacova dê definitivamente o salto.
Dou como exemplo dois municípios: Óbidos (há 25 anos atrás era apenas uma vila muralhada, com um castelo, e pouco mais acontecia) transformou-se completamente. É um sítio com grande afluência turística, onde em qualquer dia do ano, mesmo que não haja nenhum evento, há turistas do mundo inteiro a passear e a visitar… isto porque a determinada altura o Município percebeu que tinha ali uma oportunidade para transformar o concelho através do sector do Turismo…
Mas eu acho que Penacova não tem só o Turismo de Natureza como via de desenvolvimento. Por exemplo: as boas acessibilidades, até hoje, nunca foram bem exploradas. Temos duas vias rápidas (IP 3 e IC 6)… não somos um Município do “interior profundo” (como algumas estatísticas o dizem) e não aproveitámos nestes 30 anos para criar áreas empresariais de dimensão onde pudéssemos acolher empresas e negócios.
Estamos com um trabalho muito grande para fazer no domínio dessa área. Existe um Parque Empresarial na Alagoa, mas é curto… e hoje em dia se somos solicitados por várias empresas que se querem instalar, não temos espaço.
CA: Esse é um dos objectivos que foi apresentado no decorrer da campanha…
AC: O Executivo anterior já estava a preparar o trabalho para a ampliação deste Parque, mas estava muito atrasado… nem as expropriações dos terrenos foram feitas, e esse é um dos primeiros passos.
Depois temos uma outra área empresarial que queremos desenvolver, na zona do IC 6 (Lavradio) e achamos que tanto uma como outra são duas peças importantes para o desenvolvimento de Penacova, porque só com estes dois parques é que poderemos criar empresas, criar negócios, criar emprego e fixar pessoas, que é o grande drama do concelho.
CA: Esse drama é transversal aos concelhos, e cada vez mais se nota que vão perdendo população. Nota isso também aqui?
AC: Aqui é mais! Segundo os dados preliminares do último Censos, Penacova é o concelho do distrito de Coimbra que mais população perde.
CA: Talvez pela proximidade a Coimbra?
AC: Também, mas também porque a sua economia não tem dinamismo. O que se passa aqui neste momento é que os casais (população activa) como não têm emprego no concelho vão trabalhar para os concelhos limítrofes – claro que Coimbra é um pólo de atractividade – mas também vão trabalhar para Arganil, para Mortágua, para a Mealhada, para Poiares, porque aqui não há.
E depois, esta nova geração acaba por criar laços com esses concelhos. Compram um apartamento, colocam os filhos na escola, os que são solteiros acabam por conhecer alguém e constituem família e vão perdendo as raízes com a sua terra natal. É isto que está a acontecer no concelho de Penacova neste momento, porque, de facto, a nossa economia não tem dinâmica e não temos criado emprego nestes anos.
CA: A meta será apostar nos pólos industriais e no sector do Turismo?
AC: Sim, são factores muito importantes para criar riqueza, porque depois, o Turismo é um sector transversal (desde empresas de transporte, animação, comércio, lazer, serviços, alojamento, restauração). Tudo isto, se nós dermos um clique muito grande, um impulso muito grande à área do Turismo, por arrasto, todos estes sectores de actividade vão desenvolver-se e criar riqueza.
CA: Um dos objectivos que apresentou na campanha eleitoral passava por dar “vida às aldeias”… também depende disso?
AC: Também. Depende disso e depende da criação de emprego. Se criarmos emprego e conseguimos fixar pessoas, elas terão que morar nalgum sítio… a nossa ideia é atraí-las para as aldeias que estão a perder população…
CA: Como é que vai fazer isso?
AC: Vamos tentar arrancar com um programa de reabilitação urbana, onde seja possível escolher, com algum critério geográfico, algumas casas que possam ser recuperadas, porque no concelho todo há entre duas a três centenas de moradias desabitadas ou em ruina, e temos que fazer alguma coisa para as recuperar.
A aprovação de planos de intervenção em duas aldeias – Porto da Raiva e Foz do Caneiro – com alguma importância histórica (tráfego fluvial) e que perderam valor e importância neste último século, mas que são duas aldeias que podem ter aqui um papel importante nesta área da regeneração urbana, mas temos que esperar algum tempo. Não são obras para ser feitas “amanhã”, porque não intervenções de vulto e que é preciso ir aos Fundos Europeus para tentar avançar com estes projectos.
CA: Por falar em Fundos Europeus, no “Portugal 20 30” verifica-se um grande foco para os grandes centros (Lisboa e Porto), com os restantes concelhos a serem, por assim dizer, “postos à margem”. O que é lhe vai na alma quando nota que há esta disparidade?
AC: O problema dos Fundos Europeus – quer o 20 30, quer o PRR – é a falta de capacidade técnica e de resposta dos municípios, principalmente daqueles que não têm a capacidade económica que outros de maior dimensão têm. E esta falta de capacidade técnica para realizar projectos em tempo útil, impede-os de poderem responder quando abrem os avisos.
A juntar a isto, a capacidade financeira… para um Município que tem uma “saúde financeira” invejável e que tenha folga, é fácil. Para um Município que tenha contas justas e que tenha que fazer algum rigor orçamental, é mais difícil, isto é, tem que haver algum critério na selecção das obras e dos projectos onde vamos investir.
Mas acho que os municípios mais pequenos têm aqui uma grande dificuldade em concorrer a Fundos Europeus, sobretudo o PRR, até porque os prazos são muito curtos.
CA: Neste “arrumar a casa”, o que é que já foi arrumado e o que é que falta arrumar?
AC: Estamos a terminar uma fase de reorganização de Recursos Humanos (RH), porque identificámos algumas lacunas em algumas áreas e estamos a tentar alocar alguns RH onde há excedente, para outras áreas onde temos carências. E temos tido a preocupação – e indo ao encontro da pergunta anterior – e temos essa equipa pronta, de constituir uma equipa só dedicada aos Fundos Europeus e às candidaturas. Foi uma lacuna que nós identificámos e precisamos desse corpo técnico. Hoje em dia as exigências são tão grandes que, se as Câmaras não tiverem essa capacidade técnica e essa capacidade de resposta, é impossível chegar a todo o lado, e por isso, uma das nossas primeiras preocupações foi tentar identificar no quadro de pessoal da Câmara algumas pessoas que tivessem perfil para encaixar nesta “task force”, e tem sido uma das nossas prioridades… a equipa está praticamente completa.
CA: Mas neste “arrumar de casa”, insisto, o que é que falta fazer”?
AC: Nestes dois meses, o nosso trabalho tem sido esse, “arrumar a casa”, ou seja, reorganizar internamente os serviços do Município. Essa tem sido a nossa principal tarefa… é claro que coincidiu com o calendário da preparação do Orçamento para 2022… temos estado também em conversas com as Juntas de Freguesias e Uniões de Freguesia na preparação do Orçamento, e essas têm sido, digamos assim, as nossas duas principais tarefas nestes dois meses.
Depois, houve situações de emergência a que tivemos que acorrer. Uma delas, conseguimos em tempo recorde avançar, a reparação do deslizamento da rua dr. Artur Soares Coimbra (acesso fundamental à vila, Centro de Saúde, Bombeiros), conseguimos no espaço de um mês avançar com um procedimento para avançar com a obra, e a obra já está em curso.
CA: Como é que é ser presidente de um Município que tem como presidente da Assembleia o antigo presidente da Câmara, e há também, quase um empate técnico no número de deputados (10 PSD | 10 PS | 1 CDU), podendo resultar daqui constrangimentos?
AC: Confio no bom-senso das pessoas, e acho que essas questões não se vão colocar. Acho que as Juntas de Freguesia e Uniões de Freguesia devem entender que somos todos parceiros, e o interesse da comunidade e o interesse geral está acima de qualquer questão política.
Tenho a plena confiança que haverá o entendimento entre as Juntas de Freguesia e essa maioria na Assembleia Municipal, como Executivo porque trabalhamos todos para o bem comum. Todos queremos o mesmo: o bem-estar da nossa população.
Tudo o que seja dividir, discutir e divergir para outras questões, nomeadamente da área política, não estão a cumprir o seu objectivo que é servir a população.
Acredito que haverá bom-senso por parte dos autarcas que não são do PSD… e apelo que haja bom-senso para que, tanto o Orçamento com nas grandes questões fundamentais para o desenvolvimento do concelho tenham o seu acordo.
CA: Não pode haver “bandeiras partidárias”…
AC: Exactamente. É isso que se espera e tenho plena confiança que é isso que vai acontecer.
CA: Vale a pena viver aqui?
AC: Vale, vale muito a pena. Para já a tranquilidade, as boas acessibilidades, qualidade de vida, boas infra-estruturas, proximidade a um grande centro urbano, a um grande Hospital, a 20 minutos da auto-estrada (A 1), duas vias rápidas (IP 3 / IC 6), mas sobretudo um concelho que tem um povo muito acolhedor e hospitaleiro…
De facto, Penacova é um óptimo lugar para viver… eu não trocaria por qualquer outro sítio. Não troco Penacova por coisa nenhuma!