SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE ARGANIL: Homenagem (póstuma) ao eng. Fernando Valle

Descerramento da placa que perpetua o nome de Fernando Valle no antigo Hospital Condessa das Canas onde trabalharam seu avô e seu pai

No passado domingo, a Santa Casa da Misericórdia de Arganil homenageou, postumamente, o eng, Fernando José Ribeiro Cavaleiro da Maia Valle, na véspera da data em que completaria o seu 49.º aniversário, imortalizando o seu nome no antigo Hospital Condessa das Canas onde trabalharam, como médicos o seu avô dr. Fernando Valle e o seu pai dr. Fernando Simões Dias Cardoso da Maia Valle.

Descerrada pelos ex-Secretários de Estado das Florestas, Amândio Torres e João Paulo Catarino (com quem Fernando Valle trabalhou), a placa recorda que “apesar de ter fixado residência em Lisboa por circunstâncias da sua actividade profissional, foi em Coja, concelho de Arganil que cresceu, elegendo-a como ‘vila pátria’ da sua existência, e a partir dela lutou por este ‘torrão’ de terra, pelas suas gentes e pelas suas memórias”.

E porque a Santa Casa da Misericórdia de Arganil é “uma instituição com memória e futuro”, não podia deixar de preservar e enaltecer a terceira geração de uma família com um vínculo especial à instituição, o eng. Fernando Valle, que partiu demasiado novo e que foi “o engenheiro entusiasta, empenhado, competente e comprometido que era, com a terra, o ambiente, e em particular as florestas, que considerava ser o lar da biodiversidade terrestre e os pulmões do planeta”.

Por tudo isto e “pela inspiração que representa, pela promessa incumprida que os ditames da morte impuseram, mas pelo tanto que deu enquanto nos acompanhou, não podia a Santa Casa da Misericórdia de Arganil deixar de imortalizar” o eng. Fernando Valle no local “onde participou no último acto público nesta instituição, em 6 de Março de 2020, lançando as obras de reabilitação do Hospital de Beneficência Condessa das Canas”.

Mas foi no salão nobre da instituição que antes, a sessão evocativa e de homenagem ficou marcada  pela emoção nas intervenções de alguns amigos de Fernando Valle, na presença das suas filhas, da família, dos antigos Secretários de Estado Amândio Tores e João Paulo Catarino, da vice-presidente da Câmara Municipal, Paula Dinis, do amigo e presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, José Francisco Rolo, do presidente da União das Misericórdias Portuguesas, António Sérgio Martins, do reitor de Arganil, padre Lucas Pio, e que teve ainda um momento de poesia (Liberdade e Sísifo) declamada por João Bilha, um momento musical à guitarra por Manuel Portugal  e a projecção de fotos do homenageado, em vários momentos da sua vida, ao som da “Trova do vento que passa”.

O vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia, Nuno Gomes, ao dar início à cerimónia destinada a recordar Fernando Vale, “muito estimado entre nós”, referiu que “não sendo religioso era um humanista e a Misericórdia honra os homens bons, independentemente de não acreditarem em Deus”, dizendo depois que “a Misericórdia escolheu este local, pois nele estão representadas todas as figuras que em cada momento da sua vida, da sua história, contribuíram para o engrandecimento desta secular instituição. (…) Todas estas fotografias contam uma história e neste local, como é bem visível, também está representado o apelido Valle. (…) A sala pode ser pequena para tamanha moldura humana, mas o simbolismo e o peso da memória dos que aqui estão representados não. É por isso que a Misericórdia não podia esquecer Fernando Valle. O nosso lema somos ‘uma instituição com memória e futuro’ e não podemos fazer o futuro sem nos lembrarmos daqueles que foram nossos amigos”.

E citando Miguel Torga, “mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata”, Nuno Gomes levantou “um pouco do véu de Fernando Valle” (continuando a citar o médico escritor), “liberdade que estais em mim, santificado seja o vosso nome”, tendo depois Cristina Figueiredo, em representação da assembleia geral da Misericórdia, além de ler o currículo do homenageado, deixado ainda o seu “obrigado a todos que aqui hoje se associam á homenagem a um amigo desta casa. (…) Há pessoas que pela grandeza de que se revestem e pela importância da obra que realizaram transcendem o tempo que lhes é dado a viver. Assim foi o eng. Fernando Valle, cuja morte prematura a Santa Casa da Misericórdia de Arganil chora nesta homenagem consentida e protagonizada por todos o que aqui se associam no amor, na amizade, no respeito, na admiração e sobretudo na saudade e na esperança pela certeza de que não foi vã a vida que tão corajosamente soube viver”.

Vida que, apesar de curta, foi tão sentidamente recordada nas suas várias fases, aspectos e momentos pelo amigo (e antigo presidente da Câmara Municipal de Arganil), eng. Rui Silva, pelo dr. Henrique Valle Rodrigues, pela filha Teresa Valle, pelo amigo Bruno Dinis e pelo também amigo (e presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital), José Francisco Rolo, para depois o presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas, António Sérgio Martins, considerar que “esta é a nossa alma, esta é a nossa gente. Esta é a diferença de muitas outras comunidades. (…) E não há ninguém que esteja aqui nesta sala, ninguém que represente estas instituições que não tenha sido atingido pela positiva, pelos valores, pelo carácter que já aqui foi tão bem vincado que era o Fernando Vale, que era o Fernandito”.

 E por isso e como referiu António Sérgio Marins, “as Misericórdias do distrito tinham que aqui estar hoje, para dizer obrigado à família pelo excelente elemento que tiveram, muito pouco tempo connosco é um facto, mas que deixa marcas vivas e saímos daqui todos com o exemplo dele para continuarmos a lutar por aquilo em que acreditamos. (…) As Misericórdias são isto mesmo, instituições que protegem, que cuidam, mas que estão atentas aos homens bons que fazem efectivamente a diferença nas suas comunidades”, como foi Fernando Valle, “um modelo para todos nós”.

A vice-presidente da Câmara Municipal felicitou a Santa Casa da Misericórdia “por esta bonita homenagem que estão aqui a prestar a Fernando Valle. Sem dívida nenhuma a Câmara Municipal não podia deixar de se associar a este momento, tão bonito, na véspera em que o Fernando celebraria o seu aniversário”, recordando que foi vereador e deputado da Assembleia Municipal, salientando “a perseverança que tinha a defender os seus ideias, a forma como defendia a causa pública, (…) com todo o vigor, com toda a sua força”, terminando por se dirigir às filhas para que “continuem a ir a Coja”.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Arganil, António Carvalhais da Costa, referindo-se às razões que levaram a instituição a prestar esta homenagem, recordou o dr. Fernando Valle, “porque tem de se falar no passado, na memória”, para salientar depois que “falar do Fernandinho, é falar precisamente no passado, no seu avô, no seu pai, no seu carácter (…) e depois de ouvir falar tanto da sua vida, temos de nos curvar, porque o Fernando dedicou a sua vida ao ambiente, na sua terra, na sua serra, a Serra do Açor”. (…) Um jovem que se dedicou à causa pública na sua terra. (…) Então não merece uma homenagem? Não merece uma homenagem pela vida que lhe foi roubada ainda jovem?”.

“Vidas roubadas não. O que ele não seria (…) com a atitude que ele tem, de guerreiro. O que ele não seria? Mas ele já não está entre nós, mas a Misericórdia quer que este dia também fique para o futuro”, disse o provedor (oferendo a medalha da instituição a sua filha Teresa) “para que recorde este dia com memória”, deixando o pedido à vice-presidente da Câmara Municipal para que “leve esta mensagem, chegou a hora do Fernando Valle ser homenageado com a Medalha do Município de Arganil”.